Trivialidades?
A caneta era magnífica: feita em material metálico brilhante com o logo gravado em branco. A escrita razoavelmente fina, tinta azul nem clara, nem escura. Uma surpresa. Logo uma caneta, item adorado, digno de coleção, próprio para guardar em um cofre onde se guarda as coisas mais preciosas da vida, preciosa não pelo valor financeiro que ela poderia ter, que por sinal nem devia ser tão alto a ponto de precisar ser guardada em um cofre, mas por todo o sentido embutido nela, o que realmente importava. Era muito além de um simples item de escritório, muito além de um brinde ou uma lembrança, muito mais do que um objeto de escrever dado a alguém que gosta de escrever. Era quase um marco, como o fim de uma era, e só eu podia sentir e saber disso.
Aquela caneta talvez não tivesse a pretensão, mas havia sido recebida como uma recompensa de muitos anos de dedicação, era um grande motivo de orgulho, simbolizava quase um sonho realizado. Para diversas outras pessoas talvez não fosse nada, ou quase nada. Ou talvez fosse muito pouco, perto do que imagino que grande parte das pessoas, aparentemente, espera como retribuição de anos de dedicação a alguma coisa ou a alguém, quiçá seja simplório demais de minha parte aceitar tão pequeno gesto como um grande marco, mas cada um tem seus valores. Aquele momento era o motivo perfeito para enfatizar ainda mais a importância que aquela peça escondia. Às vezes tenho a impressão de que quando nos sentimos ameaçados pela perda de algo, que naquele instante pode nem parecer tão querido, sem querer, acabamos transformando o seu valor em algo muito maior e mais amplo do que efetivamente é. Redobramos os esforços sobre a estima que sentimos, esquecendo, muitas vezes, a razão que nos fazia, anteriormente, aceitar a idéia como algo simples e banal, comum, trivial. De repente, não mais que de repente, o algo comum e trivial torna-se especial, importante, emocional. Não que isso não tenha seu índice de veracidade, mas é certo que ampliamos, por algum motivo, seja pela rotina ou pela monotonia, o seu verdadeiro valor em nossa vida naquele momento. Freqüentemente imagino se não poderia ser justamente o comodismo em relação a uma determinada situação o causador de um efeito inverso de minha reflexão: a situação em que nos acostumamos tanto com algo que é realmente importante, valioso e especial, a ponto de só perceber o seu verdadeiro valor em nossa vida quando o perdemos ou quando estamos na iminência de perdê-lo. A conclusão me confunde porque depende muito de como somos, de como vemos o mundo ao nosso redor, afinal, o que para mim provoca a euforia de escrever um texto dessa profundidade, para muitos poderia ser apenas uma lembrança que seria jogada no fundo de uma gaveta, sem significado algum, sem um grande valor. Apenas mais uma caneta.
É estranho pensar em como, da mesma forma que uma caneta, nossos sonhos também podem parecer trivialidades aos olhos dos outros. Mas isso não nos impede de persegui-los e conquistarmos as coisas em que realmente acreditamos.
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