A ditadura da maternidade



Não quero ser mãe, e isso soa como uma blasfêmia em uma sociedade que sempre colocou a maternidade em um pedestal bastante frágil e irreal.
E não, eu não sou um monstro do pântano que sai por aí devorando criancinhas inocentes, mas não acredito que para ser mulher de verdade a criatura, obrigatoriamente, deve se sujeitar a carregar uma criança no ventre, não vejo isso como prova de amor quando saio na rua e vejo um olhar inocente pedindo dinheiro no farol, quando ligo a TV e ouço mais uma história de bebê jogado no lixo, quando vejo uma adulta que se diz mãe dando tapas na criança indefesa dentro do supermercado. Eu não acredito que seja preciso sentir dor e sofrer durante o parto para poder ter um filho ou merecê-lo ou que essa dor poderá redimir alguém de algum pecado, como já ouvi muitas pessoas defenderem. Não creio também que a cesariana seja realmente tão arriscada quanto o parto normal, já que a medicina recorre a ela quando as coisas dão errado. Acredito sim que cada mulher deve ter o seu direito respeitado, de ser e fazer o que quiser, já que é o seu corpo e a sua vida que está em jogo.
Sim, eu já pesquisei a respeito e eu até gostaria de ter vontade, eu gosto de crianças e pode até ser que algum dia eu mude de idéia, mas acho mesmo, no mínimo irônico, que mais de 90% das mulheres que eu conheço tornaram-se mães “sem querer” e que, muitas vezes, essas mesmas mulheres são as que defendem a idéia de que aquela que não quer o que ela conseguiu é a covarde e egoísta da história. Pois eis minha opinião: as pessoas têm filhos porque acreditam em uma idéia equivocada de que ter filho é prova de amor, porque a sociedade em que vivem diz que é preciso que seja assim, porque “aconteceu”, porque Deus quis assim, por tudo, menos porque esse era seu sonho ou porque desejavam oferecer amor. Então, chega de hipocrisia, porque ter filho é também um ato de egoísmo e já que ninguém precisa ser igual a todo mundo e que a grande graça desse negócio chamado vida é a diversidade, vamos respeitar as diferenças. A verdade é que não é por causa do dispêndio financeiro, nem pela responsabilidade, nem é por causa da vida que muda completamente, não é por medo da ingratidão e nem é por causa do meu corpo, ou das mudanças pelas quais ele passaria. Não é pela dor, nem pelo amor, nem é pelo egoísmo de querer ser sozinha. Seria maravilhoso, verdadeiramente, que eu pudesse ser igual a todo mundo, e que um filho pudesse me mudar a ponto de eu esquecer toda a desgraça do planeta. Adoro a idéia de uma entrega total, mas o pouco que vivi já deu pra entender que eu não sei e nunca saberei me entregar assim. “Para isso eu perderia minha vida, mas peço perdão outra vez, não sei perder a minha vida”.
A verdade é que ninguém deve ser mãe simplesmente por ter um útero, antes é preciso ponderar se tem um coração.


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