Por que publicar?
A descoberta de que eu gostava de escrever veio desde que eu me conheço por gente e, na realidade, sempre escrevi, mas nunca considerei viável a idéia de expor as estranhezas que passam pela minha cabeça. Talvez pelo receio do julgamento alheio, de causar impressões erradas ou simplesmente por não imaginar que o tipo de coisa que eu escrevo poderia causar interesse em algum mortal.
Embora não entendesse direito as mudanças em minha própria vida e dentro de mim, eu estava tentando encontrar uma saída para os momentos de solidão e revolta, antes de surtar completamente mergulhando no estresse do dia-a-dia - isso foi mais particularmente nos dois últimos anos. Foi numa dessas ocasiões que descobri a leitura como uma opção de entretenimento e reflexão, entendendo que não estava sozinha na jornada. Em um desses acasos da vida, eu comecei a ler as coisas de alguém conhecido. A leitura me fez sentir tão viva que eu pude relembrar aquele tempo em que eu escrevia como se o mundo não existisse. É curioso como o maior medo era o de tentar falar e não só não exprimir o que eu sentia como do que eu sentia se transformar lentamente no que eu dizia (grande Clarice Lispector!). Infelizmente era como se o mundo me devorasse de uma forma que, apesar de cada dia parecer mais sensível às coisas ao redor e de saber que eu poderia muito bem ser capaz de usar tudo isso para contar uma estória, eu acabava dando por perdida a capacidade de me expressar.
A idéia de “Coisas Frágeis” surgiu de um livro do Neil Gaiman, que meu noivo estava lendo e não gostou. Ele tinha uma capa atrativa, com a imagem meio surrada do rosto de uma criança sugerindo algo que naquela hora considerei inexplicável. Embora eu não tenha chegado a ler, só de olhar para aquela capa, fiquei imaginando quanta fragilidade há dentro de nós e até mesmo em nossa resistência física, a carga que somos obrigados a deixar para trás todos os dias para seguir em frente. Nós nos consideramos tão espetaculares, mas ao mesmo tempo somos frágeis como vidro, quebradiços, danificados. Percebi que esse tipo de fragilidade é nossa marca e que esse talvez seja nosso único legado.