Sem palavras


Nem sempre é mais fácil escrever, pois a maior parte das emoções ou idéias interessantes o suficiente para merecerem o registro acontecem nos caminhos de ida e volta para qualquer lugar, que temos que percorrer todos os dias. Ao chegar em casa, é preciso retomar muita coisa que já deixou metade de sua riqueza pelo meio do caminho. Às vezes queria que existisse um tipo de gravador de pensamentos, sabe? Que pudesse gravar não apenas sons ou imagens, mas as sensações exatas que passam por nossa cabeça para que pudéssemos transmiti-las a quem interessasse, com toda originalidade e riqueza de detalhes. Mas isso é só mais um devaneio.
Falar o que sentimos também não é tão fácil assim, já que nem sempre encontramos as palavras certas (quase nunca encontro), e mesmo quando achamos que encontramos, a pessoa que nos ouve nem sempre tem as mesmas definições para essas mesmas palavras que pronunciamos. Até mesmo os tons da conversa podem ser confundidos e parecerem o que não são, é triste, mas quase sempre eu sou péssima nessas coisas. Clarice Lispector disse sobre quem ela era: “Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo”... e eu adoro esse trecho porque ele consegue expressar o que eu penso sobre as sentidos que tentamos colocar para aquilo que sentimos ou pensamos e, quase sempre, sem sucesso. Acredito que na nossa cabeça, as idéias e sentimentos são sempre melhores!
Em outras palavras, comunicar-se é um grande problema para o ser humano, um grande risco, principalmente quando estamos em situações delicadas.
Ainda assim, eu prefiro escrever. Quando não, confesso, muitas vezes prefiro o silêncio.
Toda vez que uma fase termina eu me sinto meio assim, sem palavras, e nessa altura do campeonato, eu já acredito que a vida inteira está mais ou menos por aí mesmo. A sensação é de que nada foi muito bem explicado, de que nenhuma palavra, às vezes nem mesmo ações, seriam capazes de transmitir a mensagem exatamente como ela é ou como eu gostaria que ela soasse. Eu poderia falar todos os idiomas do mundo, escrever um livro ou publicar meus textos em um jornal ou revista, não adiantaria nada, seria apenas um pequeno percentual das minhas idéias, pensamentos ou emoções. Por isso é tão gratificante quando alguém se identifica com o que a gente publica, quando alguém elogia ou critica, quando alguém se importa o suficiente para simplesmente ler, mesmo sem comentar nada.
A essas pessoas, o meu muito obrigada.

http://infameludico.blogspot.com/2010_12_01_archive.html

Comentários

  1. Eu sempre leio, mesmo quase nunca comentando. Beijo.

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  2. também leio o seu e quase nunca comento :) bjo!

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  3. Muito bom!
    Mesmo que as palavras não façam sentido para todos, ainda assim fará para quem as escreve, e vai além disso, como se fosse o ar que volta a respirar após sair de um longo mergulho.
    Parabéns! Abs.

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