Conta comigo
Quando Lilly abriu os olhos, a
primeira coisa que viu foi um teto branco demais para ser o de seu quarto e não
demorou muito para perceber as persianas impedindo que o sol entrasse
destruindo a penumbra, a jarra de água na cabeceira que não era sua e a sonda
colada em seu braço direito. Não tinha ninguém ao seu lado e ela sentiu, além
da dor de cabeça e estômago habituais, uma imensa solidão, milhões de vezes
maior do que aquela que lembrava sentir diariamente, antes do acidente que
aparentemente a levara até aquele quarto. Ela parou para se perguntar por
diversas vezes, naqueles segundos seguintes ao seu despertar, se haviam
desistido dela e pensou mais uma vez que tinha estragado tudo para si e para as
outras pessoas ao seu redor, pois sempre levou as coisas muito ao pé da letra
transformando pequenos problemas em coisas maiores.
No momento em que deixou o quarto
do hospital, teve certeza de que jamais seria a mesma pessoa e que aquela vida
nova não seria melhor do que a anterior ao acaso que a levara àquele lugar onde
estava agora. Foi caminhando devagar pelo corredor como se não tivesse
compromisso nenhum com aquele mundo que estava para sucumbir, onde foi obrigada
a viver sem querer por tanto tempo. Tudo parecia cinza e melancólico demais
para ela, havia um martírio escondido em cada gesto e um vazio imenso em sua
alma. Seu desejo mais profundo era que não tivesse tomado as atitudes que
tomou, queria voltar no tempo, fazer tudo dar certo, mas sabia que era
impossível desfazer o passado ou ser feliz com o presente.
A notícia que ela tomou
conhecimento naquela tarde gris foi o motivo de muita desordem, com pessoas
correndo contra um tempo que não tinha como ser recuperado, com ruído e
desespero, com fumaça, mas sua feição era intocável. Andou pelas ruas da cidade
sozinha, esperando o fim do mundo como se esperasse o café expresso no balcão
de uma cafeteria, e ao mesmo tempo rodeada de gente apavorada, correndo pra lá
e pra cá, como baratas tontas. Não sentiu medo, nem ansiedade, nem tristeza.
Sentiu-se finalmente livre. Livre de toda a dor e solidão que a apavorou a vida
inteira, livre das correntes invisíveis que machucavam seus pulsos, livre da
escravidão que se tornara lentamente sua existência.
Correu para casa e sentou-se no
sofá sem medo do futuro, do presente ou do passado. Lilly nunca tinha feito
idéia, até aquele momento, do seu verdadeiro papel no mundo e do significado de
sua existência após sentar entre os irmãos, como fizera muito antigamente, para
ver um filme que eles haviam esperado por ela para assistirem juntos. A vida
era uma ópera mesmo, como um livro havia lhe ensinado na infância e a última
pergunta que fez foi “Será que dará tempo de assistir até o final?”
"Imagine receber a notícia de que o mundo acabará em
APENAS uma hora. O que você faria?
O Livro do Fim do Mundo é o último capítulo da sua
vida e de outros 7 bilhões de pessoas que vivem no Planeta Terra."
Deixe sua imaginação fluir, escreva e envie a sua história!
Citado no podcast dos caras da Geração X² em 17/01/2012: http://geracaox2.com.br/?p=2402 \o/
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