Uma noite de bebedeira
De camarote, olhando minha própria vida, sem nenhuma reação. Presa no meu campo de visão, minha pupila, minha respiração. No final a vida não deve passar disso. Não sei por que tudo exige uma reação, bom seria se pudéssemos, de vez em quando, simplesmente observar o curso das coisas. Há ocasiões em que, por mais que existam tantos outros ao redor, a sensação é de que os únicos com o poder inegável de encarar a situação de frente, sem nenhuma chance de esquivar-se, somos nós mesmos. Nessas horas, não espere o apoio de ninguém. Como um viciado, que é o único capaz de enfrentar sua abstinência, muitas vezes não podemos ou não conseguimos sequer compartilhar um sentimento, uma dor. Geralmente nem mesmo é possível obter uma boa compreensão. Sempre fico me perguntando se estou trilhando o caminho certo, a dúvida é uma faca de dois gumes. Com certa freqüência eu ainda me sinto mal comigo, não gosto muito de mim quando percebo certos defeitos que eu odeio possuir e que são tão difíceis de corrigir. Percebo que talvez eu nunca venha a ter um “summer dream”, e tenha vivido, porém, muito tempo (ou a vida inteira) mergulhada na ilusão de um...ilusão com a qual eu não soube conviver até que ela se foi. Sinto falta dela. Viver uma ilusão é necessário, é importante, é sublime. Que vida não exige isso?
À flor da pele, eu me atrevo a olhar pro alto, exercito a paciência, com apenas um gole. Se existem outros universos, outras vidas, outras consciências, certamente em uma dessas outras eu devo ter sido um oposto total, melhor ou pior, do que sou hoje. Eu tento manter um padrão de comportamento, mas o desejo de gritar é maior, mesmo sabendo não ser exatamente o meu desejo nunca. Eu não sei realmente o que me faz feliz, ou sei e finjo não ver. Somos todos fingidores no final das contas, cheios de meias verdades, cheios de truques, sem isso nossa existência estaria fadada ao fracasso. Mas todo dia eu gostaria de me sentir como me sinto hoje... como se o mundo não existisse, como se ele estivesse limitado ao raio de cobertura dos meus sentidos. É tão bom poder ver a beleza das coisas, das luzes, as cores e as formas. Ouvir vozes, sorrisos, as músicas, os gritos. Cantar e expressar o que sinto, dizer o que penso. Sentir o sabor do vinho, do alimento, do momento. Sentir o vento, o calor do sol, o tom das coisas, o toque suave da sua presença no meu coração. Mesmo sabendo que é só ilusão.
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