Diariamente
Levanto meio sem vontade. Soa até como um sacrilégio uma sentença desse tipo partir de alguém com as possibilidades que aparentemente possuo. Saio da cama e vejo tudo cinza pela janela, a garoa de São Paulo é ainda mais intensa na região do ABC, linda e convidativa para voltar a dormir. Meu quarto me chama. Lembro-me que é preciso viajar mais uma vez, percorrer os mesmos quarenta quilômetros em aproximadamente três horas (se eu não quiser levantar às quatro da manhã para fazer uma viagem mais curta). Não dá tempo de tomar café, escolher a roupa a vestir, arrumar a cama ou olhar no espelho, é preciso literalmente sair correndo, pegar o ônibus até o centro, entrar no “Cidade Universitária” e torcer para não chover ou não quebrar nenhum automóvel no meio do percurso. Chego atrasada novamente, ninguém fala nada, mas dentro de mim já é suficiente. O dia já começa mal, mas com possibilidades de conserto que só eu sou capaz de criar. Ouço meus próprios sonhos chamando, minhas idéias, meus pensamentos, e assim o dia se torna fácil de novo, principalmente se eu tiver o meu MP3 por perto.
O dia começa e termina do mesmo jeito, com as dificuldades comuns de todo mundo no meio e as lágrimas contidas em minha alma. “Não é esse estilo de vida ou aquele, é o que eu sou” penso. Volto ouvindo música o caminho todo, exceto quando estou sentimental a ponto de não conseguir nem ouvir músicas. Viajo nas canções como uma adolescente sonhando com um conto de fadas do século XXI, mas meus sonhos vão muito além do príncipe encantado, eles sobem as montanhas, mergulham no oceano, ultrapassam a estratosfera e chegam até a lua. Eu vivo sempre no mundo da lua. "Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo"...
Dou graças a Deus pelos fones de ouvido, que me impedem de ouvir a conversa entre a tiazinha e o tiozinho que tentam disfarçar o desejo um pelo outro dizendo repetidamente o quanto amam seus parceiros ou a tentativa de quase todos os presentes dentro do ônibus em defender a idéia de que são diferentes ou melhores em algum detalhe do que o seu vizinho, amigo ou parente. Sinto-me ainda mais extasiada de felicidade e tranqüilidade quando penso que estou livre do grande incômodo de ter que ouvir algum tipo de funk, sertanejo ou pagode de que não gosto porque algum indivíduo desprovido de boas maneiras adentrou o veículo com o som disponível aos ouvidos de todos. Na falta de um, carrego comigo dois fones, um de uso corrente e um de reserva, como se não pudesse viver sem ele, e transformo minha existência, naquele momento, em algo muito mais suportável.
Dou graças a Deus pelos fones de ouvido, que me impedem de ouvir a conversa entre a tiazinha e o tiozinho que tentam disfarçar o desejo um pelo outro dizendo repetidamente o quanto amam seus parceiros ou a tentativa de quase todos os presentes dentro do ônibus em defender a idéia de que são diferentes ou melhores em algum detalhe do que o seu vizinho, amigo ou parente. Sinto-me ainda mais extasiada de felicidade e tranqüilidade quando penso que estou livre do grande incômodo de ter que ouvir algum tipo de funk, sertanejo ou pagode de que não gosto porque algum indivíduo desprovido de boas maneiras adentrou o veículo com o som disponível aos ouvidos de todos. Na falta de um, carrego comigo dois fones, um de uso corrente e um de reserva, como se não pudesse viver sem ele, e transformo minha existência, naquele momento, em algo muito mais suportável.
Penso nas coisas que deveria ter feito durante todo o dia e não fiz, nas conquistas não realizadas, nos fatos que me tiraram a paciência, na falta de atitude, no desânimo que muitas vezes me escapa, nos problemas que criei, nos erros que cometi, nas injustiças às quais me submeti, em todas as coisas que deveriam ter muito menor importância do que dispenso agora com elas. Me sinto cansada, mas sigo em frente, afinal, é apenas mais um dia, como qualquer outro, um emaranhado de horas, com as quais muitas vezes nem sei direito o que fazer. Conversar, trabalhar, estudar, conviver...convencer o mundo de que eu sou algo útil para ele quando nem eu mesma acredito muito.
De volta ao meu quarto à noite, queria não precisar sair dele, e que ninguém mais precisasse entrar. Esse é um momento sagrado: apenas a luz do abajour, a tela do computador iluminando um pouco mais, um som de que gosto tanto, o cheiro de nag champa no ar, meu corpo limpo e razoavelmente relaxado, meu cachorro deitado. O sono do meu cão é uma das coisas mais lindas que eu já contemplei. Nessa hora não tenho vontade de dormir, queria apenas ser capaz de congelar a imagem e curtir por tempo indeterminado, até cansar. Mas as regras do jogo são claras e imutáveis, não posso parar, e já são duas horas da manhã, faltam apenas duas e meia para outra jornada começar...
Dolly e Pumba |
Fones de ouvido reserva, se tivesse uma camiseta "eu tenho fones de ouvido reserva", eu comprava hehehe
ResponderExcluirBoa idéia! :-)
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