Um país de f#dido


Quem sou eu pra falar desse assunto? Me perguntei antecipadamente. Uma pequena pessoa que mal conhece seu próprio bairro ou cidade. Mas logo em seguida veio uma outra resposta dentro da minha cabeça: para aprender as coisas a gente não precisa ir até elas ou tocá-las, mas ouvir falar delas de diversas fontes confiáveis- às vezes isso é mais do que suficiente.
Eu adoraria escrever apenas sobre o lado bom de ser brasileira, pois sei que há muito em nosso país para nos orgulharmos, mas a verdade mais dura e crua é que toda a motivação para eu estar acordada quase à meia noite de uma terça-feira escrevendo sem parar, foi o lado não tão bom da história.
Eu poderia citar inúmeros motivos que me fazem sentir feliz e orgulhosa por morar e ter nascido no Brasil, como por exemplo, a beleza natural que existe em nosso país, a riqueza de nossa cultura, seja na música, literatura, arte ou poesia...  No entanto, existe uma marca no povo brasileiro, que é conhecida no exterior, e da qual eu não me orgulho nem um pouco. Esta marca está impressa nos momentos em que tentamos fazer uma reclamação no SAC de uma empresa que nos atende mal (ou às vezes nem atende) por saber que as pessoas não sabem procurar ou não procurarão os seus direitos como consumidor, um povo que, em sua maioria, tem uma educação voltada para a aceitação do não saber, porque não saber traz uma ilusão breve de que não há problema a ser resolvido e de que a ignorância é uma benção, mas “a ignorância é vizinha da maldade” e muitas pessoas tem é preguiça de procurar conhecimento, sem saber que assim deixam de ser pessoas melhores, mais felizes e com muito mais possibilidades de vida.
A verdade é que você pode tentar utilizar a faixa de pedestres, se não encontrar nenhum carro estacionado sobre ela ou se der a sorte de não ser atropelado por alguém que ainda irá te xingar e tentar se defender alegando ser sua a culpa por não olhar por onde anda. É muito triste viver em um país onde ser malandro é mais bem visto do que ser honesto, onde “dar um jeitinho” ou “fazer um gato” são coisas simples e triviais, sobre as quais as pessoas falarão com um sorriso no rosto, onde se engana os outros e a si mesmo com a mediocridade e facilidade máximas de um país que realmente não tem como se desenvolver porque os lúcidos o suficiente para perceberem a situação simplesmente vão embora.

Eu realmente lamento escutar de pessoas próximas, que viajam para países chamados desenvolvidos, que lá por onde andaram, as pessoas pagam suas compras deixando o dinheiro sobre o balcão da loja porque não existe risco de ninguém se apoderar das notas ou levando seus votos à urnas espalhadas pela cidade porque não existe perigo de corrupção de votos. Lamento perceber que agindo certo somos os errados e procurando sempre melhorar somos os babacas da situação, quando o segredo para o desenvolvimento desse país está justamente nessas ações individuais, onde ninguém acha que está fazendo mal, mas que transforma a vida de todo mundo em uma grande mentira, uma grande hipocrisia, uma grande cilada.
Talvez por causa desse modo de pensar medíocre, as pessoas estão sempre pensando que serão passadas para trás, e por isso elas te tratam como se você fosse igual. As pessoas julgam você pelo que elas são. Elas te empurram pra entrar no vagão do trem do qual você precisa sair para que entrem, te taxam de otário se você caminhar três metros e meio a mais para poder atravessar na faixa de pedestres, te tratam como um babaca se você perder alguns minutos a mais fazendo o que é certo em vez de ganhar dinheiro fácil fazendo errado, te zoam de retardado ou idiota por respeitar leis, normas e códigos, por ler um procedimento ou manual de instruções, por não beber quando precisa dirigir. Elas vão te chamar de idiota se você demonstrar qualquer tipo de fragilidade ou sensibilidade e falarão mal pelas costas se você demonstrar o mínimo de cultura ou educação, como se você fosse um ser repugnante ou que se acha melhor do que todo mundo porque gosta de ler, escrever ou ver filme em vez de chopp, carnaval, novela ou futebol. Como se essas coisas fossem mérito ou demérito algum.
Depois você escuta na fila do banco que o coitado do brasileiro é um povo muito sofrido e que deveria ganhar mais dinheiro pra ter uma vida mais digna e blábláblá...por isso eu não largo mais meus fones de ouvido, porque meu ouvido cansou de ouvir esse tipo de absurdo. Como se o brasileiro não tivesse pernas nem cérebro pra fazer as coisas do jeito certo, impedindo que a nação vá cada dia mais pro buraco, impedindo que pessoas morram por imprudência, impedindo que outros morram de fome por corrupção e ganância, impedindo o subdesenvolvimento eterno e contínuo não apenas de nossas vidas, mas de nossas mentes.
Não é só no Brasil? Acredito que não, acredito que é no mundo inteiro que nos deparamos com essas coisas, porém, acredito também que aqui no Brasil é mais freqüente e mais aceitável que seja assim. É tudo "normal". Também encontramos aqui pessoas incríveis, que lutam e têm que matar um dragão por dia, remando contra a maré, em busca de uma sociedade melhor para nós, nossos filhos, nossos netos. Mas uma andorinha só não faz verão, por isso, muitos vão embora, e encontram em países da Europa ou América do Norte as possibilidades de crescimento e o reconhecimento que merecem.
É triste ver estampado na capa da revista um rosto brasileiro que não teve nenhuma credibilidade em seu próprio país e conseguiu lá fora o reconhecimento que deveria ter conseguido aqui, triste ver como o país não dá valor aos estudos e que quem gosta mesmo de estudar tem que sair pra conseguir desenvolver um suas coisas lá fora.
Ouvi esses dias no Jovem Nerd, em uma entrevista com o Lucas Radaelli, que nem mesmo cães-guia para deficientes visuais, têm sido disponibilizados em nosso país, e que só estão conseguindo os cães as pessoas que tem muita força de vontade para ir atrás nos Estados Unidos, onde existe uma ONG que dá todo o suporte para o povo de lá e de outros países, como o nosso. Eles dão o cão-guia para o deficiente, o treinamento e ainda uma pensão vitalícia para manter o cão. (link do episódio Nerdcast 256- Cegos, nerds e loucos). Dá pra perceber o absurdo que é o cara deficiente visual ter que sair do seu país para pedir ajuda a outro para conseguir algo tão básico?
Isso me dá vergonha. Infelizmente, eu lamento dizer, mas na maior parte do tempo, não tenho orgulho de ser brasileira.

Um presente de Walt Disney para nosso povo:
Zé Carioca: malandro (alérgico a trabalho), boa gente, caloteiro até a última pena (mantém a forma fazendo os "400 metros rasos fugindo de cobradores"), com a criatividade do brasileiro para seguir levando a vida. Dentre as muitas coisas tidas como preferências nacionais no Zé Carioca estão presentes a feijoada, a jaca, o amor pela sua terra (marcante no bairrismo carioca), praia e, em especial, samba e futebol.



Comentários

  1. Um post sobre fumar e outro sobre vantagem logo lembrei da lei de Gérson, um ótimo post como sempre e infelizmente nem a beleza desse pais me agrada mais.

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  2. Um dos Melhores textos qua já li

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