Pensamento do dia


Toda manhã, no caminho de ida ao trabalho, eu passo em frente a uma casa onde vejo um cãozinho preto e branco, bem peludo, lindo e imóvel na garagem. Como se não bastassem as grades do portão que o separam da rua, ele ainda encontra-se preso por uma corrente, que conectada à coleira no pescoço, o impedem de andar pelos cantos da casa que habita. Toda vez que me vê passar, ele se levanta esticando o pescoço o máximo possível,  como se o momento em que me vê passar, pudesse trazer de volta, por alguns ínfimos segundos, sua própria liberdade de ir e vir, liberdade que ele deve se lembrar remotamente de um dia ter usufruído, em sua curta vida, e que hoje não possui mais. Seus olhos inocentes navegam nos meus e transmitem à minha alma uma mistura de lamento, por não poder correr por aí sem destino, e alegria, por acreditar ter o privilégio maior de ver as pessoas livres passarem por onde suas vistas alcançam, todos os dias. Toda vez que olho para esse lindo cãozinho, que tem um lar e comida pra comer como muitos outros não têm, mal consigo evitar o desejo quase insuportável de libertá-lo dessa prisão, como se por meio da emoção de vê-lo correr para onde quiser, eu pudesse assim sanar todas as enfermidades e angústias causadas a todos os outros inocentes do mundo, ou como se eu pudesse curar a mim mesma de qualquer mal, diante da felicidade inimaginável que eu sentiria ao vê-lo correr livremente. Ao passar por aquela rua todo dia, muitas vezes tento não olhar, mas quando não resisto e olho em seus olhos inocentes, uma lágrima sempre emerge delicadamente nos meus, por saber que nada posso fazer por ele, exceto amá-lo e sentir o seu amor, mesmo à distância.
Um dia dou uma de louca e bato palmas naquela casa, mesmo que para pedir um copo d’água, só pra ver se acalmo a minha alma com o conforto de saber que ele é amado.


Comentários

  1. Ahhh, essas visões me matam. Já pensou se todo aquele que acorrenta devesse, primeiramente, passar pela situação do acorrentamento? Ideias-bobagens.

    ResponderExcluir
  2. Engraçado que uma semana depois de escrever esse texto vi o cãozinho livre e solto pela rua, correndo e cheirando gramas...foi legal ver ele livre, apesar de meio perdido...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui e não esqueça de se identificar. Beijos!

Postagens mais visitadas