Você tem medo de quê?
Não tem como evitar, um dia eu ia acabar escrevendo sobre esse assunto que mais parece uma bobeira de criança. O fato é que não se trata de bobeira, como aparentemente as pessoas julgam, é uma característica pessoal e que precisa ser respeitada.
Todo mundo tem medo de alguma coisa, quem não tem, com certeza não é desse planeta, porque até mesmo os animais têm medo, mesmo sendo diferente dos nossos. Os medos são tão diversos que abrangem viajar de avião, insetos, separação, altura, velocidade, lugares apertados, multidões, escuridão, solidão, entre muitas outras coisas. Eu tenho medo de quase tudo: do escuro, de ficar sozinha, do futuro, da morte, insetos, das pessoas, ou seja, quase tudo. Mas existe um coisa da qual eu não tenho medo, mas um pavor insano e absurdo, que me tira do sério e me faz agir sem pensar logicamente. Essa fobia tem um motivo que chama-se baratas. Sim, aquelas coisas asquerosas que sobem pelas paredes, andam pelo teto, pelos esgotos e voam nas nossas cabeças se não tivermos cuidado. As nojentas que proliferam-se no verão e se reproduzem no inverno, que resistem até à bomba atômica e que acredito serem servidoras de satã mesmo. Quando se trata de baratas eu me transformo em uma outra pessoa, totalmente paranóica, que não tem coragem de matar nem de olhar, mas fica infernizando a vida de quem está do lado, chorando como uma criança de cinco anos pedindo pra mãe botar fogo nela pra ela não “reviver”. Sim, essa é uma das minhas faces e eu admito que não há muito orgulho em admitir, mas é a verdade mais pura que eu posso contar hoje.
Quando eu era criança, mais especificamente entre 1982 e 1987, morei por algum tempo no nordeste, em cidades pequenas do estado da Paraíba, onde as casas eram, em sua maioria, grandes, cheias de cômodos largos e janelas e portas abertas até tarde por causa do calor de quase 40 graus que costuma estar presente, mesmo até tarde da noite. Em uma das residências que meu pai possuiu, tínhamos até mesmo fogão à lenha, mas para quem não sabe, uma característica das casas das regiões mais pobres do nordeste é a construção de banheiros fora da casa, muitas casas nem mesmo possuíam esses cômodos naquela época, pois era comum as pessoas fazerem suas necessidades no meio do mato mesmo, mas aquelas que adquiriam esse “luxo”, tinham seus toaletes, na maioria das vezes, localizados no fundo do quintal, e por toalete, entenda quatro paredes com um buraco de fossa no meio, pois os banhos eram tomados em outro local que, por vezes, eram um açude ou lagoa. O caso é que esse tal “banheiro”, por questões óbvias, acabava lotado de baratas, que vinham da fossa e ficavam diariamente nas paredes, no teto e por todos os lados. E detalhe: não havia nenhum tipo de iluminação e nem janela, ou seja, até mesmo durante o dia o ambiente era muito escuro. Além das baratas e da escuridão, ainda contávamos com um local incrivelmente apertado, pois cabia apenas uma pessoa e o espaço era quase exclusivo para o buraco onde fazíamos as necessidades colocando cada pé de um lado e agachando como se fosse fazer no chão ou atrás de uma moita, por exemplo. Para uma criança como eu, aquilo era o inferno na terra, era um pesadelo e eu segurava a vontade de ir ao banheiro até os últimos segundos. Quando mudamos para São Paulo, fomos morar em uma casa muito antiga, na região do ABC, onde infelizmente, encontrei mais um ninho desses insetos nojentos. A casa havia sido construída muito próxima a um cemitério, de onde diziam que vinham as baratas. Durante a noite era possível ver dezenas delas caminhando pelo chão, paredes e teto, prestes a cair na minha cama, eu me cobria dos pés à cabeça e ficava morrendo de medo de dormir e acordar com uma delas no meu rosto ou no meu cabelo. A casa era tão cheia delas que mesmo pela manhã, encontrávamos muitas embaixo da pia, no quintal ou dentro dos móveis e gavetas. Eu acho que foi daí que surgiu o pavor que sinto hoje ao me deparar com uma delas na rua. É como reviver esses momentos horríveis de quando eu era criança.
Se existe uma coisa que me faz ter pesadelos e me tira a noção de tudo, são esses insetos imundos, que estão por toda a parte e transformam as nossas cidades em um grande esgoto a céu aberto. Quando vejo uma delas por perto, pode estar a um quilômetro de distância, mas parece estar em cima de mim. Sinto como se meu corpo fosse dominado por uma multidão delas e tudo fica obscuro como em um filme de terror. Não gosto de pronunciar o nome, ver foto e nem aquelas de plástico, portanto, se for meu amigo, nunca brinque com isso, é provável que eu fique brava e saia gritando como uma louca na sua cara, pode acreditar.
Fico pensando: se apenas um inseto é capaz de fazer isso com a cabeça de uma criança e a forma como isso pode refletir em sua vida depois de adulta, imagine o que outras coisas muito piores como fome ou violência não podem causar a uma pessoa, marcando sua vida e sua personalidade para sempre. Imagine por um pequeno instante como deve ser.
"there was a monster in my bed" |
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