Maresia

Caraguá

Olho o horizonte pela primeira vez e sinto um arrepio diante da emoção de estar viva para ser brindada com a oportunidade de poder presenciar o movimento das ondas. Inigualável mundo. Se eu não sabia o que é ser livre, agora certamente tenho uma ótima idéia.

A brisa toca meu rosto e o único pensamento presente em minha mente é “por que eu demorei tanto?”. Em um movimento lento, quase parando, sento na areia e fico observando aquela imensidão, sinto um misto de medo e paixão, inevitavelmente mergulho nesse momento como se não houvesse amanhã. Começo a imaginar o motivo que faz com que a gente perca, com o tempo, a coragem de correr atrás daquilo que sonhamos profundamente, o que nos distancia de momentos incríveis como esse, o que nos faz deixar de lado toda a essência de nosso ser para viver uma vida morna e previsível. Pare por um instante e pense naquilo que você realmente deseja pra sua vida, como seria? Será que você estaria nesse mesmo emprego, estudando o que está estudando, cuidando dos filhos, encarando o trânsito do horário de pico ou colocando o jantar na mesa da sua casa, vivendo essa rotina regrada? Ou estaria pescando sua própria refeição com a água até os joelhos, aquecendo-se na chama de uma grande fogueira, pintando um quadro que refletisse o que você realmente é, tocando um violão, piano ou clarinete? Não que haja demérito algum em ser um executivo bem sucedido ou cuidar da família, mas reflito sobre a ilusão que criamos na mediocridade que acatamos diariamente e ainda defendemos como sendo a melhor das escolhas que poderíamos fazer porque há muito mais caminhos do que às vezes conseguimos enxergar. Me pergunto se eu não deveria ser a única atrás do volante, guiando minha própria vida, traçando minha trajetória, sem a camisa de força  imposta pelo medo covarde de nossa educada situação,  sem a ilusão de um padrão de normalidade imbecil, criado por uma civilização hipócrita. Se eu pudesse reescrever minha história escolheria desde cedo ser feliz do meu jeito, faria dessa vida que me foi dada de graça a minha vida realmente e não a que deixei inocentemente, como muitos outros, que fosse moldada pra mim. Irônico como passamos a vida inteira evitando a morte e nos deixamos morrer assim lentamente.“I should be the one behind the Wheel”