Liberdade é pouco

A cada dia uma nova descoberta, de um limite que eu não sabia possuir. Lutando para não surtar de uma vez por todas nessa grande maré de expectativas desnecessárias, como uma bomba relógio nas mãos de uma criança inocente, eu olho ao redor respirando fundo e escolho a sanidade, mas não sei até quando. Tenho medo até de perguntar a mim mesma. A pressão vem mais de mim do que dos outros, eu sei, e ela vai aumentando a cada ano que passa, mas que bom seria se pudéssemos mudar a nós mesmos como trocamos de roupa ou de calçada diariamente. “Está tudo bem”, eu respondo da forma mais polida possível diante do receio de tornar-me definitivamente a pessoa mais ranzinza que eu já conheci. “Eu só queria um abrigo” é o que desejo deixar escapar sem querer, mas ninguém iria entender, então eu desisto da sinceridade incabível e continuo inserindo as informações na planilha sem pensar muito. Respondo uma pergunta, olho para as árvores e o céu azulado através da janela, sinto uma leve brisa passar e esqueço por alguns segundos de tudo o que insistentemente me aflige. Ouço tudo ao redor e me importo muito pouco, muito menos do que seria adequado para as interações sociais necessárias à sobrevivência de quem deseja ser aceito. E o conceito de sonho antigo vai se desfazendo mais um pouco dentro de mim e lentamente dando lugar à mais delicada sensação de incerteza que eu já experimentei. “Me traz luzes sem sombra, encontros sem perda” e o meu egoísmo parece ameno diante de tamanha percepção. Dou mais um passo diante da bifurcação que se tornaram os meus dias e faço as escolhas que tenho que fazer, jogando com paciência as cartas que me restam. “Nesse jogo bobo a gente ganha somente para perder”, penso. Dou graças a Deus pelo livre arbítrio de que disponho e, em meu íntimo, involuntariamente, duvido um pouco dele, soltando um grito de liberdade abafado demais para ser ouvido. É tão simples, tão fácil, e se você me pergunta respondo com toda certeza: “liberdade é muito pouco, o que eu desejo ainda não tem nome”.