Sentir é pensar sem idéias



Eu sinto. Tu sentes. Ele sente.
“Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias.”
Seja o vento que passa tocando o rosto e levando areia aos olhos que lacrimejam para nos proteger, o calor do sol queimando a pele até que fique morena, bronzeada ou apenas vermelha de arder, o frio congelando as mãos desprotegidas que tocam o metal frio do ônibus durante a viagem ou a água da chuva molhando os cabelos, as barras das calças, as roupas que antes estavam secas.
O corpo que, reclamando da infecção, superaquece; a agulha fria e pontiaguda que dilacera a veia ao se retirar o sangue necessário, o dedo mindinho do pé quando bate na perna da cama sem querer, as contrações que fazem o bebê nascer.
A fome inimaginável que faz o corpo não aguentar mais e morrer, a sede de conhecimento que impulsiona a pessoa a intelectualmente crescer, a solidão que estimula a mente e fortalece a alma.
O calor mais do que físico de um grande abraço, a sensação de um beijo antes muito desejado, o corpo se aconchegando devagar junto ao outro, a embriaguez do prazer estonteante quando o encontro acontece, o frio na espinha.
A felicidade de um olhar bem correspondido, a insensatez do pensamento de uma imaginação fértil, a alegria contagiante do sorriso inocente de uma criança, a adrenalina de uma corrida contra o tempo, de uma corda bamba.
A sutileza das milhares informações transmitidas pelos cinco sentidos. O leve toque das mãos, o puxar de cabelos, o jeito com que a boca se abre e se fecha durante a pronúncia das palavras. A música tocando no momento certo, a mensagem do dia.
A emoção de uma respiração quando não se tinha mais esperança nenhuma, a vida que começa e termina todo dia e a gente não se acostuma nunca, a vibração de comemorar uma conquista aparentemente impossível, a sensualidade de um perfume que vem de dentro e de uma atração que corre em outras veias, pulsa em outro lugar.
O universo inexplicável que se expande a cada passo que damos em busca de nós mesmos.
Isso é que é viver.

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida. (Fernando Pessoa)

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