Palhaço cidadão


Tenho que contar esta estória, mesmo que ela não tenha muito a ver com o blog, pois espero que seja um incentivo para outras pessoas buscarem seus direitos e começarem a exigir um tratamento, no mínimo digno, por parte de funcionários, sejam de instituições públicas ou privadas.
Quantos de nós já não foram atendidos rispidamente em hospitais, empresas de telefonia (esses são os maiorais quando se trata de mau atendimento ao cliente), restaurantes, universidades, bancos e muitos outros estabelecimentos que deveriam nos tratar como verdadeiros cidadãos?
A minha indignação refere-se ao fato de que esse tipo de ocorrência é encarada (por quase todo mundo) sempre com muita simplicidade, pois na maioria das vezes, as pessoas não têm informações ou conhecimento o suficiente para reclamar um tratamento mais digno e justo.
A minha estória aconteceu em uma instituição pública e esse texto é parte modificada de uma longa e revoltada carta que escrevi para esta organização, da última vez em que estive lá.
Esses dias fui à Delegacia da Receita Federal de São Bernardo do Campo, sendo esta a quinta visita feita à unidade da Av. Marechal Deodoro nos últimos seis meses, onde inclusive, perdi cinco dias de trabalho para procurar regularizar a situação da minha Declaração de Imposto de Renda.
Apesar de ter tomado todas as ações possíveis para agilizar o processo, a única resposta que recebi dos atendentes desta unidade foram que eu deveria esperar, que não havia previsão de retorno, que não existia um prazo para o julgamento de minha situação, o que eu, leiga que sou, considerava uma situação razoavelmente simples de ser resolvida, não fosse pelos empecilhos da burocracia cega e incompetente do sistema.
O caso é que no ano de 2011, quando fui gravar e enviar a minha declaração de IRPF, cometi o erro de baixar a versão anterior do programa Receitanet, o que gerou uma declaração do ano anterior, erroneamente. Em dezembro/11, quando recebi a notificação de multa por atraso na entrega do documento (sim, 8 meses depois de ter entregue a declaração errada!), dirigi-me à unidade da RF de SBC e entrei com os pedidos de cancelamento e impugnação da multa gerada na época, explicando toda a situação equivocada (por escrito inclusive).
Na ocasião, fui orientada por uma atendente que pediu que eu fizesse a declaração novamente, porém, utilizando o programa correto, que seria o de 2011. Ao gerar a declaração, foi emitida uma nova notificação de multa, já que eu não tinha efetuado o pagamento da multa original. Efetuei o pagamento no valor de R$165,00 no dia 22 de março de 2012, dentro do prazo de vencimento da mesma.
Procurei a Receita Federal mais duas vezes para saber da minha situação, além de ter utilizado o Receitafone e a página na internet para buscar saber do status do processo, já que precisava da situação regularizada o quanto antes para poder finalmente dar entrada em toda a imensa papelada na CEF, para futura aquisição de imóvel.
Ocorre que, no decorrer dos últimos seis meses, a única resposta que recebi da RF foi que “o processo é demorado mesmo” e que não havia apenas o meu caso para ser analisado, logo, eu deveria apenas esperar.
A indignação que eu senti foi muito além do tratamento frio e descortês prestado no balcão da empresa, simplesmente não consigo entender como é possível agirmos de forma tão natural, alegando que “demora mesmo”, sendo que seis meses para alguém julgar um processo é um tempo que considero absurdo, não importa quantas toneladas de documentos existam para serem avaliados. Se fossem toneladas de cheques para serem compensados aposto que jamais demoraria seis meses. Acho um descaso extremo com o cidadão, que perde um dia de trabalho para dirigir-se a uma unidade de atendimento qualquer, que o deixa esperando por mais de duas horas em uma fila, para no final das contas, lhe informar que não há nada que ele possa fazer e que ele deve simplesmente ignorar as próximas notificações de multa que chegarem em sua residência. É muito absurdo que não haja o mínimo respeito por alguém que paga suas contas, seus impostos e o salário dessas mesmas pessoas que o tratam como verdadeiro palhaço. Será que se eu fosse um deputado, juiz ou advogado o tratamento seria o mesmo? Se eu fosse o presidente da república? Qual é a diferença?
Até quando vou ter que esperar a boa vontade da Receita Federal, da Caixa Econômica, da UBS do meu bairro, do INMETRO, do Poupatempo, da empresa de telefonia? Até perder o financiamento da minha casa? Até morrer sem me aposentar? Até que meu filho tenha convulsões de febre em frente ao hospital? Até que minha empresa perca a acreditação? Até quando? Será que existe um sofá onde estão alocadas pilhas e pilhas de processos esperando por avaliação de alguém que não é competente o suficiente para desempenhar suas atividades e tem como prioridade sair para tomar um cafezinho a cada dois minutos enquanto recebe um salário de cinco dígitos que sai dos bolsos do cidadão sentado há mais de duas horas na sala de espera da obscuridade?
Até quando vai ser assim? Só quero saber até quando, me digam?


P.S.: Bem, no final das contas, após receberem minha carta indignada, demoraram apenas 15 dias para regularizar a minha situação, o que prova mais uma vez e infelizmente, que era pura má vontade mesmo!

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