Pior é para quem fica


“Coisas ruins acontecem e a gente não pode fazer nada para evitar” disse o Timão no desenho que considero um dos melhores de todos os tempos: O Rei Leão. Essa obra de arte nos ensina muito sobre maturidade, responsabilidade, perda, amor, saudade, superação, coragem e muitas outras coisas, por isso se você ainda não assistiu, faça isso urgentemente e tire suas próprias conclusões.
A primeira vez que eu vi uma pessoa morta eu tinha 16 anos e a pessoa no caixão também. Estranho pensar como hoje eu tenho 30 e ele continua com 16 porque o tempo parou de passar para ele... Essa pessoa era meu primo, filho da irmã mais nova da minha mãe, que tinha ficado meses em um hospital com um problema aparentemente inexplicável nos pulmões, eles simplesmente foram falhando até não funcionarem mais e daí por diante outros órgãos foram parando em conseqüência do problema inicial. A gente não sabe, e na verdade nem os médicos sabem direito, porque isso aconteceu e tornou-se tão crônico a ponto de se tornar irreversível para um garoto de 16 anos, mas a vida tem umas coisas que a gente nunca consegue entender...
Eu olhei para o corpo dele morto no caixão, com a aparência pálida e as marcas roxas nas mãos, e não consegui sentir muita coisa, pois na minha cabeça a o único pensamento que surgia era que seu sofrimento finalmente tinha acabado e que não importava mais pra ele o que eu fizesse, dissesse ou sentisse, pois pra ele tudo estava no passado. Mas quando vi a situação de sua mãe arrasada, com a perna engessada, uma barriga de oito meses de gravidez e mais três filhos para cuidar, ai sim eu me senti um caco, um lixo, uma idiota por não poder fazer absolutamente nada para amenizar a dor que ela estava sentindo. Não consigo nem imaginar o que é perder alguém tão próximo e que se ama muito, não consigo nem pensar no que dizer pras pessoas em um momento assim, minha única vontade, quase incontrolável, é de engolir a pessoa toda de uma vez e deixá-la sossegada lá dentro de mim, sem ver, ouvir ou sentir nada. Minha vontade maior é de envolvê-la em um abraço tão grande, que elimine qualquer dor e qualquer sensação boa ou ruim, para fazê-la sentir-se anestesiada contra tudo que possa acontecer. Infelizmente meus braços são pequenos demais e esses desejos são inúteis, tanto que sempre me sentirei com as mãos e os pés atados nesses momentos, pois o único que pode trazer esse efeito anestésico é o tempo, que é remédio soberano, embora ele passe de uma forma tão lenta e com uma lucidez que chega a ser cruel para os que estão tristes. 

“Quando nós somos a morte não existe, quando ela passa a existir nós deixamos de ser, pior é para quem fica.”
"When you're down and troubled
And you need a helping hand
And nothing, Oh nothing is going right
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest night"

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