I told you I was trouble

Ela é toda errada e ainda assim tem algo de muito bom ali escondido nos olhos que embriagam. Com os cabelos compridos, cobrindo parcialmente os seios que mal cabem no vestido destacando seu lado mais feminino, a maquiagem escura e o salto alto escondendo a idade, ela mal se segura em pé e lembra de tudo que gostaria de ser e não é. A alegria artificial ainda é melhor do que a realidade triste, então ela toma mais um gole e segue em frente cambaleando, olhando sempre para seus sonhos como se eles não estivessem ali do lado, se realizando, enquanto ela nem consegue manter os olhos abertos para perceber.
Um dia essa menina também foi a garotinha do papai, o pai que ela procura incansavelmente na platéia, o pai que ainda a admira, haja o que houver, pois nunca deixará de ser seu pai, até a morte. Ela foi aquela que gostava de brincar de boneca, como qualquer outra criança, e talvez ainda tivesse boas chances de ser o modelo ideal para uma sociedade totalmente fora do ideal, mas alguma coisa no meio do caminho fez com que ela se tornasse apenas uma excêntrica cheia de tatuagens e que não tem vergonha de falar coisas feias e contar seus segredos malucos pra quem nem precisaria saber de nada (...). Por trás desses olhos pintados, desse jeito desengonçado de dançar e dessa melancolia escancarada existe uma mulher boa que não suporta mais o peso do mundo em suas costas, existe uma tristeza que dá até pena, uma desgraça iminente, uma solidão, um pedido de socorro que muitos rotularão de fraqueza ou egoísmo e ela saberá e admitirá docemente que isso tudo é verdade. Mas se você observar atentamente é possível ver tanta coisa boa que nem mesmo parece tratar-se de uma pessoa só, é possível enxergar um lado tão humano quase como se houvesse duas personalidades presas em um corpo só. Uma mulher linda, sexy e profunda, mais especial do que muitas outras garotas vazias que vemos por aí, mas essa é uma beleza tão forte que não aparece facilmente para olhares que não sabem apreciar a verdadeira beleza que não vem de graça. É preciso saber navegar, cavalgar e viajar em seu eu, ouvir de verdade sua voz e prestar atenção ao timbre, esquecendo todo e qualquer padrão estúpido que exista nesse mundo. É preciso abrir os braços para o inusitado, diferente e esquecer os preconceitos, porque ela é muito mais do que seu olho pode ver. Se sua mente viajar no íntimo dos lábios que se movem e tomam, vez ou outra, um gole do sei lá o que contido no copo, e nos movimentos irregulares dos braços e quadris, nas palavras espontâneas de quem não dá a mínima pro mundo nem pra nada, verá alguma coisa que vai gostar muito, que vai atrair até arrepiar os pêlos do seu corpo, porque ela como uma droga e vai fazer você delirar e se sentir livre e feliz, vai mostrar um pouco de você mesmo desabrochando, além de um mundo totalmente novo e cheio de coisas legais que você nunca imaginou conhecer, mas um dia tudo vai mudar de repente, porque tudo tem seu preço, porque o veneno que ela toma é o desejo de que os outros morram, porque ela não é boa e nem ruim, é tudo o que poderia ser.


Comentários

Postagens mais visitadas