Dia do Metrologista
“O dia 26 de junho é uma
referência ao dia 26 de junho de 1862, quando o então imperador Dom Pedro II
introduziu no Brasil, através da Lei número 1.175, o Sistema Métrico Decimal, a
partir do Sistema Métrico Francês. Todas as atividades relacionadas à adoção
desse sistema, precursor do atual Sistema Internacional de Unidades, levaram à
criação, em 1961, do Instituto Nacional de Pesos e Medidas e, em
1973, do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial,
o Inmetro.” (www.inmetro.gov.br)
Para quem não sabe, eu sou
metrologista há mais ou menos 12 anos. Atuo no ramo da metrologia científica e
industrial, sempre em conjunto com a gestão da qualidade. Minha iniciação
deu-se na indústria metalúrgica e chegou aos laboratórios de calibração, onde
se estuda e desenvolve processos de calibração de instrumentos, em diversas
grandezas mecânicas, garantindo a qualidade e rastreabilidade de tudo o que é
medido no país [em teoria, pelo menos :/ ].
Com a experiência adquirida primeiramente
na indústria, aprendi que, embora não seja mais nenhuma novidade, as medições,
sejam elas relacionadas a dimensão de um produto, o peso de um alimento no
mercado, a quantidade de remédio injetado em um paciente ou a temperatura de um
forno de padaria, são muito importantes porque são a principal fonte de
informação que permite a rejeição ou aprovação de um produto ou processo, bem
como a análise de sua qualidade, atendendo a rígidos sistemas de gestão como a
ISO 9001, ISO/TS ou ISO 17025, entre outras, porém, a verdade é que, na
prática, poucas organizações estão realmente preocupadas em desenvolver um
trabalho sério e confiável quando falamos de medir as coisas. Infelizmente, a
metrologia no Brasil, pelo menos para os menos conhecedores do assunto ou para
aqueles que não dão a devida importância, ainda é vista como “perda de tempo”.
A maioria das empresas apresenta um desempenho limitado neste ramo, deixando a
desejar tanto na seleção de um prestador de serviços idôneo, quanto na análise
dos resultados apresentados em relatórios e certificados de calibração e na
disseminação dos conhecimentos técnicos, sugerindo um interesse muito maior em
investir tempo e dinheiro apenas o suficiente para não serem reprovados em
avaliações externas da qualidade, e não para conhecer os erros e incertezas de
seus instrumentos e processos, efetivamente. Em complementação a isto,
são poucos os laboratórios de calibração que desenvolvem um trabalho
metrológico confiável, mesmo aqueles em que o Inmetro acredita, pois tanto os
investimentos tecnológicos quanto os níveis de conhecimento das pessoas, deixam
uma sensação de mediocridade e subdesenvolvimento no ar. Isto nos coloca em uma
posição de “viver de aparências” e mostra que a grande maioria não está
legitimamente preocupada com a qualidade e nem com a verdade de nenhuma
medição.
Este círculo vicioso, que
acredita-se erroneamente não conseguir
mudar, é o que transforma a competitividade entre laboratórios extremamente
desleal e empobrece o trabalho do metrologista de verdade, em face da expressão exacerbada
de uma necessidade de lucratividade que devora qualquer tentativa de valorização
da atividade, que é rica demais. Depois de muitos anos trabalhando nesta área,
percebo que no dia-a-dia, para uma parcela da população, pouco importa se
aquela medida é o valor que está escrito no certificado de calibração realmente
ou se a incerteza associada atende adequadamente aos critérios de aceitação, o
que a maioria frequentemente preocupa-se é com a aprovação dos produtos, mesmo
que não seja a maior expressão da verdade, desde que o cliente não saiba e
continue comprando. Vergonhoso e triste, mas é verdade.
Neste dia do metrologista eu
reitero a minha opinião sobre este meu ganha pão, que aprendi, em grande parte,
com meus colegas do IPT: “se você não consegue expressar o seu conhecimento em
números, ele é exíguo ou insatisfatório” (Lord Kelvin)...e a ciência das medições é muito
mais do que isso que andam fazendo e mostrando por aí. Saber medir de verdade não
é pra qualquer um.
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