Conforme as conveniências
A minha revolta com o mundo
corporativo não é de hoje, porém, não pensem que não sei das dificuldades dos empresários
em manter seus investimentos de pé, pois a situação, principalmente aqui no
nosso país, é realmente muito complicada para quem resolve montar seu próprio
negócio. Além disso, o curso de Processos Gerenciais me fez enxergar bem melhor
o lado do empregador, pois acabei tendo contato com áreas que nunca haviam me
causado interesse, como Gestão Contábil, Financeira e Tributária e Gestão de
Pessoas, por exemplo. Acho até que todo empregado deveria conhecer este lado da
moeda, pois talvez fizesse com que muitos tivessem mais consciência das reais
dificuldades e necessidades de uma instituição. Sim, existem muitos empregados
que também estão deixando a desejar por aí, mas isso não justifica, em nenhuma
hipótese, o que tenho observado de uns tempos pra cá neste mundo corporativo.
Preciso dizer que me sinto irritada
e frustrada com esse mercado de trabalho que vejo hoje, não sei se é uma
situação que abrange apenas minha área de atuação, mas acredito que não. Como
tenho uma experiência razoável, desde cedo aprendi que um bom profissional está
sempre de olho no mercado, assim como uma boa empresa. Portanto, mantenho
sempre meu currículo atualizado, acesso sites de empregos e tento manter meu networking sempre em expansão. A
decepção começa quando vejo as descrições das vagas disponíveis por aí.
Acontece que comprometimento é a palavra do momento dentro das organizações.
Quase todo dia, em quase todo lugar, para quase todo mundo, essa palavra é
repetida como um argumento para fazer as pessoas sentirem-se mais responsáveis,
sentirem-se mais parte do todo. Como se apenas fazer um discurso bonito já
fosse um argumento válido por si só. Subestimando descaradamente a capacidade
de entendimento e inteligência das pessoas, as empresas fazem reuniões pomposas
e usam palavras difíceis para dizer o quanto precisam de colaboração e apoio de
todos, trabalho em equipe e comunicação, blablabla... O problema é que é nítida
a falta de coerência entre o que se prega e o que se faz, pois é fácil cobrar
tanto dos funcionários e chamá-los de "colaboradores" quando
conveniente para a companhia, alegando que eles devem comprometer-se, mas não
oferecer o mesmo em troca, que é o mínimo que se espera de uma instituição
séria. Pagamento de salário e benefícios em dia, direito a férias, saída para
consultas médicas, disponibilidade de recursos materiais, equipamentos de proteção
individual, adicional de insalubridade/ periculosidade, respeito no ambiente de
trabalho e muitas outras coisas não são regalias e sim requisitos básicos, são
necessidades primárias que muitas empresas por aí estão se esquecendo,
convenientemente, de oferecer. No próprio anúncio de emprego já é possível
perceber as incoerências, pois a verdade é que a regra só se aplica para o
empregado. A empresa anuncia mil e um requisitos para a contratação, mas
mascara meia dúzia de itens básicos (garantidos por lei, em sua maioria, inclusive),
como se fossem benefícios. Em outras palavras, somos cobrados que é preciso ter
formação superior, experiência de não sei quantos anos na área, inglês fluente,
carteira de habilitação, disponibilidade para viagens, pra fazer horas extras,
etc, etc, etc... enquanto os benefícios citados são vale transporte, refeição/alimentação,
seguro de vida ou plano de saúde, carro e celular da empresa... e eu me
pergunto: Desde quando essas coisas são benefícios? Para mim esses itens são o
mínimo que a empresa tem que oferecer ao empregado, mesmo se não for obrigatório,
muitos deles são recursos, ferramentas de trabalho. Daqui a pouco vão listar 13º
salário e férias como benefícios. Isto é absurdo. Benefício para mim é bolsa de
estudos, premiação por metas, programas de capacitação no exterior,
participação nos lucros, entre outras coisas...
Isto não está certo. E o pior, as
pessoas acabam aceitando esse tipo de situação porque precisam viver e ganhar
dinheiro para sustentar suas famílias, pois ninguém quer passar necessidades. E
quando são contratadas, as coisas vão caminhando assim por tempo indeterminado
e piorando o suficiente para serem desgastantes.
Com isso, as pessoas, por mais dedicadas que sejam ao seu ofício, vão
desmotivando e facilmente perdendo a vontade. O que era melhor nelas vai simplesmente
morrendo, até que sejam julgadas e declaradas culpadas por seu próprio declínio,
obviamente e infelizmente, e finalmente, se tornem dispensáveis. É quase um círculo vicioso, estúpido, covarde e
imoral, eu sei. Mas é real e alguém tem que falar.
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