Coisas que dão medo

Era uma vez uma garotinha que morava em um sítio muito longe da civilização, onde não havia energia elétrica, nem água encanada e onde as casas eram grandes e feitas de paredes de barro, com fogão à lenha e lamparinas para iluminar os cômodos. Nesse lugar, os adultos trabalhavam no plantio e colheita e as crianças, quando não ajudavam os pais, tinham apenas uns aos outros e a natureza para brincarem. O pai dessa menina sustentava a família sozinho, uma família grande de seis filhos, pois sua esposa havia falecido muito jovem, quando a menina ainda tinha apenas quatro anos de idade. Houve uma noite, quando ela tinha por volta de nove anos, em que resolveu ir dormir sozinha, em uma rede que ficava pendurada no meio do quarto vazio, separada dos irmãos. No momento em que seu pai entrou no quarto para lhe dar boa noite, como era costume fazer com os filhos todas as noites, ele apagou o fogo da lamparina que iluminava o quarto, com um sopro ao sair, e quando tudo ficou totalmente escuro, a menina ainda sentada na rede, com as pernas penduradas, viu uma luz branca muito forte em sua frente, uma luz totalmente diferente das que costumava ver, já que só conhecia a iluminação amarelada do fogo das lamparinas ou fogões à lenha. Quando essa luz apareceu, seu olhar estava baixo, olhando para o chão, e quando começou a levantar o olhar, o que ela viu foi aterrorizante demais: nos segundos que se seguiram, avistou dois pés descalços e suspensos do chão, e depois, a barra de um vestido de cor clara esvoaçando, e conforme foi subindo o olhar, viu o rosto de uma mulher com os cabelos desgrenhados e uma expressão brava no rosto. Quando finalmente o grito conseguiu escapar de sua garganta, foi escandalosamente alto e ecoou na vizinhança inteira, mas mesmo assim a imagem não sumiu, continuava lá, intacta, até seu pai chegar e acender a lamparina, fazendo a imagem  finalmente desaparecer. À partir dessa noite, a menina nunca mais dormiu no escuro total. Ela era criança demais pra entender naquele momento, mas sentiu que aquela era sua mãe falecida há cinco anos e buscou fotografias dela para ter certeza. Quando encontrou, não restou dúvida alguma, a expressão na foto era exatamente aquela que ela tinha visto naquela noite. Sempre perguntavam àquela menina se ela tinha certeza que não foi um sonho ou coisa de quando a gente está entre o sono e o despertar, como ela tinha certeza de que aquilo foi real? E ela dizia sempre, com toda certeza do mundo: “eu senti o vestido dela encostar na minha perna”...


Esse texto foi enviado para o pessoal do Monalisa de Pijamas (http://www.monalisadepijamas.com.br/), que leram na Rádio Monalisa nº 20 (heeee!!!!). Para ouvir, acelere até mais ou menos 28 minutos de gravação: http://www.monalisadepijamas.com.br/podcasts/radio-monalisa-20-coisas-que-dao-medo-05

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