Boneca de luxo

Eu olho pra ela e penso “Que beleza pura, genuína, original. Se toda mulher fosse assim, acho que a mudança de que sinto falta ocorreria bem mais rápido”...

Nem sei por onde começar, mas há muito tempo queria expressar minha opinião sobre algumas mulheres. Digo algumas mulheres porque odeio estereótipos, embora muitas vezes, por questão de costume, eu mesma me veja utilizando, sem querer. Sendo bem sincera nesse momento, eu odeio ter que admitir que sinto necessidade de escrever sobre isso, porque pode demonstrar até um certo machismo ou a negação do meu próprio gênero, embora eu tenha muitas linhas ainda para fazer todo mundo que ler esse texto entender que, na real, não é isso.

Só para que todos entendam um pouco melhor a origem desse sentimento que preenche a postagem agora, há mais de dez anos a minha vida está repleta, quase completamente, de homens. Cresci com dois irmãos, nunca tive irmã. Aos dezenove anos eu ingressei em um curso de mecânica, onde, para minha surpresa, eu era a única mulher da turma e admito ter sido uma das experiências mais difíceis e mais gratificantes da minha vida, pois na época eu era uma pessoa tímida, recatada e até mesmo boba, envergonhada, não tinha costume de conversar muito com os rapazes, não tinha maturidade para entender e enxergá-los como pessoas. Eu tirei dessa situação um aprendizado enorme, que acredito que toda mulher deveria experimentar, aprendi principalmente, a ser tratada com igualdade e a reconhecer os limites de minha capacidade de fazer qualquer coisa. Sim, porque uma mulher é capaz de tudo o que um homem é capaz, mesmo quando exige-se um certo esforço físico que não seja exagerado, é claro, pois sabemos das inegáveis diferenças anatômicas. Mas eu falo de coisas simples que eu vejo muitas mulheres admitindo como “coisas de homem” como saber trocar um pneu, um chuveiro ou o botijão de gás ou formatar um computador (!). Não que seja preciso fazer tudo isso para ser independente, mas acredito que é importante saber se virar com essas coisas, assim como é importante que um homem saiba lavar sua roupa ou fazer sua própria comida, por exemplo. Digamos que mesmo se eu fosse uma dessas garotas fúteis, o que obviamente não é o caso, certamente eu aprenderia, até o fim dos dezoito meses de curso técnico em mecânica, a cuspir no chão e “coçar o saco”.  Eu aprendi a me comunicar melhor, a enfrentar os desafios que ultrapassavam as fronteiras do preconceito, aprendi a entender, respeitar e admirar a mente masculina, e com certeza me diverti muito também! Depois de viver essa experiência, minha vida simplesmente nunca mais foi a mesma, pois acabei seguindo uma carreira predominantemente masculina e a me envolver em relações de amizade quase exclusivamente masculinas. O respeito e admiração pelos homens me fez querer entender melhor as mulheres, o que muitas vezes não foi possível ou, infelizmente, culminou em uma grande série de decepções. É claro que, como falei no início do texto, não me refiro às mulheres em geral, mas algumas mulheres que me fazem sentir vergonha de pertencer ao gênero feminino. Pessoas, independentemente de ser homem ou mulher, podem nos fazer sentir tudo isso, eu sei, mas esse texto refere-se especificamente às características de comportamento essencialmente femininas.

Para quem não sabe ou nunca reparou, existem alguns atributos predominantemente femininos, que aplicam-se à maioria das mulheres, e um deles é a necessidade/desejo de ser o centro das atenções, o outro é a falsa impressão de que beleza é tudo. Qual é a mulher que não gosta de se sentir bonita e chamar a atenção das pessoas por onde passa? O problema é quando isso se torna maior do que qualquer coisa! A impressão que tenho é que algumas meninas são criadas com tanta gente babando em cima e chamando de bonequinha que acabam por acreditar que realmente o são, essas mulheres deixam-se enganar pela fisionomia e acabam por criar uma máscara, transformando-se lentamente e despercebidamente em verdadeiras bonecas de luxo, absolutamente impecáveis, mas que se quebram com uma facilidade previsível. Olham no espelho e colocam-se em um pedestal imaginário, crendo que a aparência está acima de suas outras qualidades e que é preciso tratar com desprezo qualquer outra que ela entenda como uma “ameaça”. Esquecem-se, entretanto, que uma boneca, inanimada como tal, só se sustenta em uma estante e que, com pouco tempo de uso, só é lembrada como objeto de decoração.
A questão é que nem todas as mulheres são assim. Conheço garotas bonitas, inteligentes, espertas, que sabem admirar, valorizar e expressar sua beleza, sem necessariamente, agredir nenhuma outra. Mulheres que sabem respeitar o espaço de todo mundo e compartilhar sua vida, como uma flor que espalha o perfume pelo campo. Elas nos mostram o tempo todo que não há necessidade de competição porque existe um lugar para cada um de nós nesse planeta, se a delimitação de seu pequeno mundo interior puder ser ampliada, e que beleza por si só é algo abundante e vazio demais e não se sustenta sozinha por muito tempo, não sendo, portanto, um fator decisivo para que você seja alguém melhor, admirado ou diferenciado dos demais. Todos têm sua graça, seu valor, seu charme, e não necessariamente estão ligados a um rostinho bonito, de boneca.

É maravilhoso encontrar mulheres assim, amigas, que realmente gostam umas das outras, sem frescuras, invejas ou falsidades, mulheres maduras, seguras e inteligentes, que sabem admirar as outras sem receios estúpidos. Pessoas assim são tão especiais que estão quase em extinção, são jóias preciosas e eu as admiro porque são muito mais do que bonequinhas de luxo, elas são de verdade.

“Diga quem você é me diga

Me fale sobre a sua estrada

Me conte sobre a sua vida

Tira a máscara que cobre o seu rosto

Se mostre e eu descubro se eu gosto

Do seu verdadeiro jeito de ser

Ninguém merece ser só mais um bonitinho...”