A gente tem tudo
Fim de ano sempre me faz pensar
nas conquistas e derrotas dos últimos doze meses, e acredito que cause este
efeito na maioria das pessoas, embora seja apenas mais um dia comum, no final
das contas. Dá sempre uma sensação meio deprimente porque, na maioria das
vezes, a gente acaba por pensar muito mais nas coisas que almejou do que nas
conquistas. Isso é bobagem, mas é inevitável.
Eu não sei se existem pessoas, em
qualquer fase da vida que estejam desfrutando neste momento, que estejam
plenamente satisfeitas a ponto de não desejarem mais nada. Acredito que seja intrínseco
do ser humano querer sempre mais. Não sei se a maioria ao meu
redor está no emprego que sempre sonhou, com a situação financeira que pediu a
Deus, com sua verdadeira cara-metade (se é que isto existe...) ou na situação
acadêmica que sempre quis. Arrisco dizer até que poucas dessas pessoas leram os livros que queriam
ter lido neste último ano ou sequer tiveram tempo para ver os filmes, ouvir
músicas, ir ao cinema, encontrar os amigos, ver aquele show ou tirar um final
de semana de praia e sol, à beira mar...
Estava vendo um dos meus seriados
preferidos, com o smartphone com o qual tanto sonhei este ano em minha mão, o
notebook no colo, um copo de refrigerante e as lembranças do show do Teatro
Mágico. Pensei no rumo que as coisas tomaram, em como tudo acabou dando
errado pra mim e no quanto as coisas parecem mais certas do que se tivessem dado
certo. Fiquei imaginando como estaria agora se tivesse tomado outras decisões e
seguido por outros caminhos. Mas lembro
que estou em casa, sentada no sofá com um copo de refrigerante, depois de um
dia trabalhoso e gostoso. De banho tomado, roupa trocada, maquiagem feita. Com
minha cachorra Baleia inquieta, correndo de um lado para o outro, sem saber se
fica na varanda, perto da churrasqueira, ou embaixo da cama por causa do
barulho dos fogos de artifício – oh dúvida cruel, dividida entre o medo e a
fome, coitada rs.
Eu aqui na companhia dos que amo,
com saúde e a barriga cheia... e em paz. Não consigo parar de pensar em tudo o
que a gente tem e no quanto a gente sempre quer mais e mais, e naqueles que não
têm a mesma sorte. Tanta gente na rua, nessa chuva que cai agora, sem família,
amigos ou dignidade. Tanta gente por aí sem ter nem o que vestir enquanto me
angustio por não conseguir encontrar o colar que eu tanto queria usar hoje,
pessoas com fome enquanto penso que a sobremesa infelizmente ficou menos doce
do que eu esperava, tanta gente infeliz, doente e eu ouvindo música no conforto
do meu lar, livre do frio, solidão e das violências do mundo. Paro por um
momento e concluo, inquieta, que tenho mais do que preciso, muito mais conquistas do que
derrotas, e todo o resto parece secundário.
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