Pandora
Segundo a Mitologia Grega, quando
Pandora abriu a caixa (ou o jarro) não sabia, mas estava liberando todos os
males do mundo e, ao perceber o que acabara de provocar, fechou rapidamente, deixando apenas a esperança ainda presa lá dentro. Friedrich Nietzsche escreveu,
em Humano, Demasiado Humano, que “Zeus quis que os homens, por mais
torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem
a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior
dos males, pois prolonga o suplício dos homens”.
Minha tia mais próxima teve uma
dor de cabeça na última sexta-feira que deixou seu olho esquerdo sem visão e
sem movimento, instantaneamente. Foi ao médico em busca de uma solução e não
voltou mais para casa desde então. Sábado ao meio dia foi a última vez que
minha mãe conseguiu falar com a irmã e sua última frase para ela foi “à noite a
gente se fala” – por mais perto que a gente esteja deste fato, a gente nunca
imagina que é literalmente a última vez. Depois deste telefonema, a tia Maria
entrou em coma. Na madrugada de segunda-feira, depois de três derrames consecutivos, ela veio
a falecer, mas minha mãe não conseguiu sequer ir ao enterro, porque ela não havia
conseguido dormir e não estava bem de saúde o suficiente para assistir ao funeral.
Foi um final de semana de espera.
Espera por um milagre ou para que aquilo que estava acontecendo fosse apenas um
sonho ruim. Mas infelizmente coisas ruins acontecem e a gente às vezes não pode
fazer nada para evitar. A esperança que ronda a antessala de um hospital, onde
se encontra entre a vida e a morte uma pessoa que amamos, eu acredito ser a
forma mais cruel que este “bem” (a esperança) pode assumir. Por isso vejo a
esperança como um mal necessário. Sem ela, muitos de nossos planos, e grande
parte de nossa luta, não chegaria ao fim que desejamos, porém, ela nos faz
buscar energia e força para acreditar em coisas inacreditáveis. De um jeito ou de outro, são formas de a gente crescer e se tornar
até mais duros e resistentes, formas da gente continuar. Mas como dói esperar por algo que, no fundo, a gente sabe que não virá! Ter esperança dói.
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