A Janela da Alma


Se você olhar bem de perto, cada pessoa tem suas peculiaridades. Umas são mais fáceis de se enxergar ou entender, outras chegam a parecer transparentes, mas algumas são como baús trancados a sete chaves e essas costumam causar muito interesse ou repúdio.
Eu tenho o hábito de ficar olhando fotografias de qualquer tipo, de paisagens, de pessoas, de lugares, coisas ou objetos. Gosto de avaliar os detalhes, ficar fitando a imagem e tentando decifrá-la, entender a mensagem por trás da captura daquele momento. Acho que é uma herança do curso de Design e do professor Eduardo Ruegg, que nos ensinou fotografia apresentando seu trabalho maravilhoso e falando sobre o Henri Cartier-Bresson e seu conceito do “instante decisivo” que eu adorei imediatamente. Acredito que este instante decisivo a que ele se referia pode ser observado em qualquer fotografia, mesmo aquelas mais caseiras, mal tiradas, basta você prestar atenção aos menores detalhes.
Acredito também que uma fotografia nos mostra muitas coisas que a gente deixa passar batido no dia-a-dia, pois é como a captura da essência de uma pessoa, é na imagem impressa que podemos perceber detalhes que, em questão de segundos, fogem aos nossos olhos, escapam à nossa percepção falha. O caso é que existem pessoas que tem muito a mostrar mas, por algum motivo desconhecido, acabam escondendo, porém, nas fotos é possível avaliar uma imensidão de coisas que não se pode esconder. Podem ser coisas boas ou não, tipo Dexter hehehe, mas eu gosto de vasculhar, então, mantendo meus olhos fixos nas fotografias eu acabei encontrando mais ou menos um padrão. Em todas as imagens que analisei encontrei um rosto triste, sim, triste, embora até um pouco doce. Uma expressão de lamento, uma fisionomia perdida, cara de infância roubada, de vida interrompida. Expressão de quem viveu menos da metade do que gostaria, de quem levou um golpe certeiro e caiu no jardim da própria casa. Jeito de quem acordou de repente, fora de hora, e se viu sozinho dentro de casa, sem pai nem mãe, sem saber exatamente em que espelho ficou perdida  a sua face. São olhos certos, firmes, quase sem emoção, um semblante frio que esconde um mar de sentimentos abafados, encolhidos, sem esperança de libertação. Rosto de quem se pergunta o tempo todo “porque?”, de quem segue remando mesmo sem saber para onde, de quem entrou no labirinto da vida e continua procurando alguém na saída que segure uma tesoura de jardineiro na mão. Esses olhos de quem sabe muito, mas acha que não sabe nunca o suficiente. Olhos sedentos por conhecimento.

Falta tanta coisa na minha janela, como uma praia

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