É sempre amor mesmo que acabe?

"Quem eras antes de mim? Quem sou depois de você?"

Toda vez que ela precisou lá estava ele, cheio de defeitos e qualidades, como todo mundo, mas com a lealdade quase de um cão, sem saber que existem alguns sinais que a vida nos dá e simplesmente deixamos passar sem perceber, como em (500) Days of Summer. Talvez o maior defeito dele fosse amar, ou esforçar-se para convencer a si mesmo de que amava aquela menina, por julgar precipitadamente que sem ela não haveria mais ninguém a quem amar ou por faltar coragem de admitir, àquela altura do campeonato, que não era mesmo amor. A verdade é que, para quase todo mundo, é fácil olhar para trás, depois de alguns anos, e pensar mais claramente, enxergar nitidamente tudo o que havia de errado, mas pode acreditar, a gente se sente tolo. Tolo por não ter observado melhor, por não ter visto as oportunidades que se abriram, por não ter tomado uma atitude, por não ter refletido quando alguém falou alguma coisa, por não ter vivido outras coisas em razão de uma razão que nem sabíamos mais ao certo qual era. “O fanatismo consiste em redobrar os esforços quando já se esqueceu os motivos.” Por isso se eu pudesse dar um conselho qualquer eu diria “preste atenção aos sinais, não tenha medo de mudar o que lhe deixa infeliz hoje, pois só se é jovem uma vez.”
Não é que ela não fosse uma garota superlegal ou bonita e tal, é que ele era demais e aquilo que havia entre os dois, que nem mesmo tinha um nome, não possuía o mesmo significado para ambos, mas ele não queria acreditar. O que aquele cara tinha para oferecer, sabia que jamais receberia em troca daquela garota e sabia, inclusive, que essa condição seria para sempre a mesma, mas ele esqueceu por muito tempo que "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira". Muitas e muitas vezes deparou-se com a vontade de fazer de conta que estava tudo bem, mesmo tendo uma leve sensação, no fundo da alma, que havia algo de muito errado. As tentativas de consertar o que, evidentemente, não tinha conserto e talvez nem precisasse de conserto algum, eram formas de tomar sempre a estrada errada e chegar, obviamente, no mesmo destino insosso, porque a esperança e o desejo inevitável de não deixar aquilo morrer parecia maior do que tudo, maior do que ele, do que ela e até mesmo maior do que o sentimento que os unia naquele momento. É difícil entender como alguém assim tão incrível pode pedir tão pouco e se dar por feliz, porque ela não estava ali há tantos anos do lado daquele cara por amá-lo realmente e isso era mais do que claro para todo mundo, menos para ele. Ele era seu “estepe” mas ela era sua “lagosta”, e é preciso lembrar que se não for recíproco, infelizmente não é amor. Todo mundo entendeu o “estepe”, mas só pra explicar, ambas as metáforas foram tiradas do seriado Friends, em que os amigos qualificam como “estepe” o amigo com quem o outro irá se casar caso não tenha nenhuma outra opção até os 40 e a lagosta é a fiel e única companheira com quem a outra poderá envelhecer de patinhas dadas dentro do tanque. Aquela menina estava com ele por egoísmo, por medo de ficar sozinha, por insegurança, mas a recíproca era verdadeira entre os dois, porque ele também estava com ela por  motivos semelhantes, embora seu sentimento fosse nitidamente mais legítimo desde o princípio. Nenhum dos dois sabia mais até que ponto valia a pena estarem juntos, mas o medo fala sempre mais alto nessas ocasiões e a tendência é esperar que as coisas se resolvam sozinhas para não ter o peso de uma eventual escolha errada nas costas. O mais lamentável de uma história como essa é o desperdício de vida quando, por egoísmo, a pessoa impede que a outra siga em frente, e enquanto os anos vão passando, ela vai olhando ao redor, tentando encontrar aquilo que não consegue encontrar com ele, até que um dia finalmente encontre e então passe a ser feliz como nunca foi, mas então terá impedido que ele vivesse as diversas possibilidades que deixou passar por estar com ela. Nada nunca está realmente perdido, claro, mas, acredite em mim, por diversos momentos, a sensação não será essa.
É evidente que a questão dos relacionamentos em geral é muito mais complexa, pois nenhum dos dois sentirá a mesma coisa um pelo outro, isso é impossível, nunca será na mesma intensidade, porém, o ideal é que seja bem próximo disso e que os dois sejam o mais honestos possível um com o outro, assumindo a responsabilidade em relação aos sentimentos do outro. Quando a diferença é muito grande, a parte “menos favorecida” não percebe e a situação começa a ficar complicada demais, mas só irá causar algum impacto perceptível na vida dessa pessoa quando muito tempo tiver se passado e os danos sejam reais o suficiente para tornarem-se irreversíveis, e aí já não terá muito mais o que fazer, pois não dá pra "prever o futuro ou mudar o passado, calculando os riscos devagar, ponderado."
O fato é que nada é mais importante para ele do que aquela menina com quem aprendeu muitas coisas, inclusive a ser o homem que é hoje e que um dia, antes dela, foi apenas um menino. Ser feliz com ela é fácil, mesmo quando não está com ela, mesmo que nem seja de verdade. “É sempre amor mesmo que acabe, com ela aonde quer que esteja, é sempre amor mesmo que mude” e nenhuma outra garota tem espaço em sua vida, nenhuma outra chega perto, nenhuma outra sob seu olhar. Enquanto isso o tempo passa para os dois de forma diferente, juntos e afastados, perdidos e abraçados, tudo ao mesmo tempo, misturado. Ela com planos A, ele com planos B, ambos com tudo em comum, e ironicamente, nada em comum. O dilema é o que poderia ter sido e não foi e pensar nisso às vezes pode doer demais. As meninas que suspirariam (ou suspiraram silenciosamente) de paixão por aquele cara incrível, o amor que ele poderia ter dado e recebido, o desperdício de uma vida inteira por um amor que verdadeiramente não existia. Para uma pessoa comum, ela poderia ser suficientemente boa, o problema é que ele é extraordinário.
Depois de muito tempo a gente percebe que não tem mais vinte e poucos anos e que a gente merece muito mais do que isso. Percebemos, inclusive, que esperamos a vida inteira por uma mudança repentina que caísse do céu, como num passe de mágica, que infelizmente não aconteceu, e dificilmente irá acontecer se a gente não fizer acontecer.  Essa mudança que poderia ter ocorrido e não ocorreu é porque não olhamos para o lado, não tomamos a decisão, simplesmente fechamos os olhos para o novo e seguimos o caminho mais fácil, nos entregando à mesmice e à famosa ”zona de conforto”, sem perceber que ficar sozinho e, eventualmente, sofrer, faz parte do jogo e é uma forma de crescer e dar um passo a mais para subir os degraus da escada da vida. Se nos acostumamos com aquele degrau simplesmente não subimos. É assim em todos os aspectos da vida, por que não seria no amoroso? A metamorfose pela qual passa a lagarta, coitada, dentro do casulo, é um grande sofrimento que, no entanto, a transforma em uma linda borboleta, que sai voando por aí provando o aroma das mais lindas flores do mundo. E embora tenha apenas 24 horas, terá valido a pena muito mais do que se tivesse optado, medrosa, por ficar dentro do casulo, sem enxergar as coisas maravilhosas que seu vôo lhe proporcionariam. Mas é sempre assim, quem olha de longe é quem vê.


"De tudo na vida ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando
A certeza de que é preciso continuar
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo,
Da queda um passo de dança,
Do medo uma escada,
Do sonho uma ponte"

Comentários

  1. Interessante ver organizado em texto muito do que sinto e que só sei transformar em caos.

    Parabéns.

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