Será o Benedito?



Hoje eu ouvi mais um podcast do Max Gehringer, que me fez admirar ainda mais essas respostas sábias que ela dá aos ouvintes preocupados, daquelas que fazem a gente parar pra pensar muito além do mundo corporativo, mas em tudo o que a gente foi, é e será.
Gehringer me fez pensar sobre o quanto nem parecia que o tempo iria passar assim tão rápido, mas quando menos percebi, já fazia mais de dez anos que tinha encontrado o primeiro dos melhores líderes que eu já conheci em minha vida. Lembrei vívidamente de como seus olhos atentos brilhavam através das lentes dos óculos e como a fragilidade do tipo físico magro não diria logo de primeira quanta força e sabedoria haveria por trás daquele ser humano. Um homem que acreditou em mim e em muitas outras pessoas, quando ninguém mais acreditava. Com seu exemplo de humildade e respeito ao próximo, eu aprendi tudo o que começava a ser uma grande busca pelo melhor que existia em mim, em todos os aspectos, não apenas profissionalmente falando. Conhecer este tipo de pessoa é um orgulho que carrego comigo para a vida toda, aonde quer que eu vá.
Benedito Wilson nunca cursou uma faculdade, mas apresentava tamanha sabedoria, que reconheço em pouquíssimos universitários formados, não apenas pela experiência adquirida, mas pelo ser humano que ele se permitia ser. Frequentemente vestia roupas com aparência de pano de chão, andava com um livro embaixo do braço por todo lado e não sabia dirigir um automóvel... ia embora de ônibus fretado da empresa,  como todo mundo. Nunca se rendeu ao matrimônio, pelo menos oficialmente, mas amava sua família e sua casa cheia de livros e máscaras, decorada com uma cuidado e um carinho tão detalhista que somente alguém muito intimamente rico poderia fazê-lo. Cerveja e mar, em dia de sol eram suas paixões secundárias. Wilson amava igualmente o seu trabalho como ninguém, estava explícito, era um homem que transmitia boas vibrações por onde passava. Mantinha-se de pé a cada cilada que a vida lhe apresentava. Chegava, às vezes com sono, dores de cabeça e gastrite incomodando, meio pálido, cansado. Pudera, depois de 31 anos dentro daquela organização, que lhe proporcionara uma vida mais confortável, qualquer organismo, naturalmente, começaria a sentir as consequências. Um belo dia resolveu que bastava, e assim como muitos outros foi, por vezes, sutilmente condenado. “Por que você não espera um pouco para receber mais?”, era o que se ouvia pelos corredores. Mas ele era determinado e cheio de personalidade, resolveu que já havia ganhado dinheiro o suficiente e gastado saúde suficiente também. Sem muito receio, virou as costas deixando saudade. Em toda minha vida profissional, nunca tinha visto alguém, com mais de trinta anos de empresa, ir embora e não deixar sequer uma desavença para trás. Foi viver sua vida em meio ao mar, lendo os livros que gostava, na beira da praia, com a caneca e a brisa do lado.
Benedito Wilson Correa, apenas um nome, apenas mais uma história, como tantas outras. E assim como tantos outros beneditos que não gostam do próprio nome, ele era gentilmente chamado de Ditinho por muitos.
Naquela época eu nem imaginava o que era dormir por horas e horas dentro do ônibus, chegar em casa tarde da noite, não ter tempo para minha própria vida, não sonhar em possuir um carro e nem com casamento, como todo mundo costuma achar que deve ser. Não sabia metade das coisas que sei hoje, claro, mas eu já sabia que, diante dos meus olhos, estava uma pessoa muito mais do que extraordinária. O Ditinho foi embora há muitos anos da minha vida, mas ficou em meu coração como o maior exemplo de tolerância e competência. Um homem único. Chorei por uma semana quando ele me deixou e sinto falta até hoje. Respeito e tolerância estão em falta neste mundo Ditinho.



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