Morrer não dói...

Morrer não dói, o que dói é ficar.
Cemitérios me fazem sentir paz e ao mesmo tempo uma grande solidão... há muito tempo eu não comparecia a um local desses com a finalidade de realmente ver alguém que tenha partido, fosse um ente querido meu, ou simplesmente querido de alguém que eu gostasse muito. Não que eu tenha visto alguma coisa neste fim de semana, pois o máximo que consegui ver foram os parentes mortos de pessoas desconhecidas para mim, em pequenas salas separadas, esperando um último adeus de seus amados familiares, como se isto significasse realmente alguma coisa para quem já se foi, como se aquele corpo estendido não fosse apenas um personagem, com máscara e figurino, esperando para sair de cena.
Fúnebre demais para minha cabeça. Mas talvez eu me sinta assim por não estar acostumada com a morte, engraçado, como se tivéssemos algum motivo para não se acostumar com ela. Desde quando nascemos, a única certeza que temos nessa vida é a de que um dia iremos morrer, porém, nos esquecemos disso todos os dias, esquecemos a obviedade desse fato e acabamos por pensar, sem querer, que somos imortais, que isso nunca irá nos acontecer ou àqueles que amamos, porém, um dia qualquer, não importa qual, essa certeza se concretiza e a morte leva sem piedade, a pessoa que mais amamos, dizendo friamente que o nosso tempo, que achávamos ser infinito, acabou. Que aquele carinho deixado pra depois, aquele passeio remarcado milhões de vezes, aquela viagem prorrogada para o próximo ano e aquele jantar que deixamos de fazer juntos, não terão mais como acontecer. Nunca mais.
Apesar de tudo, uma coisa muito simples e obvia me ocorreu hoje. O dia estava lindo, uma tarde ensolarada naquele lugar maravilhoso, cheio de árvores e flores... um dia perfeito se não fosse  por toda a dor e sofrimento impressas na paisagem. “Como é possível tanta dor em um lugar tão bonito?”, pensei logo no contraste quando vi as pessoas, reunidas ao redor do túmulo recém preenchido, recebendo os pêsames de quem estava chegando. Deparei-me com a certeza de que eu não sei como me portar nessas ocasiões, nunca passei por isto e nunca precisei consolar ninguém, nunca entendi, portanto, o real significado desse ritual. De repente, aquele grande e forte abraço me fez perceber que existem momentos na vida em que não é preciso pensar em nada, nem mesmo dizer nada, apenas seguir o coração e o nosso mais primitivo instinto altruísta, sem pensar ou dizer nada. Aquele abraço caloroso me fez entrar em contato com o lado mais humano e superior que há em mim, criando sem querer, um momento em que verdadeiramente me conectei com a dor de uma outra pessoa, sentindo uma vontade infinita de roubá-la para mim e deixar no lugar a sensação de alívio que eu desejava vê-lo sentir. Um abraço infinito em poucos segundos em que eu queria engolir aquela pessoa inteira para que o mundo não pudesse machucá-la de novo daquela forma, tão dura, lúcida e cruel. Infelizmente não seria possível.
Infelizmente isso tudo são só sonhos e ilusões. Ou felizmente... Porque a verdade é que a dor faz parte da vida e é com ela que crescemos mais firmes e fortes, prontos para um novo recomeço. Ela é, portanto, necessária. É por meio dela que nascemos para o novo, e como dizia meu querido Steve Jobs, “a morte é provavelmente a melhor invenção da vida, pois ela dá espaço para o novo”. Ele estava mesmo certo em dizer que ninguém quer morrer, nem mesmo as pessoas que desejam ir para o céu querem morrer para chegar lá. Sábio.

A gente se vai com o tempo, uns jovens, outros velhos. E o que fica é apenas a memória e a saudade. Um dia o nosso tempo se acaba de verdade. Aquele tempo que, hoje, julgamos infinito, sabendo que não é. Uns vão embora no momento certo, outros cedo demais. Por mais que pareça louco, e por mais triste que seja, esse é o fim que todos nós compartilhamos, mais cedo ou mais tarde. Seja num dia tão lindo como hoje ou em meio à tempestade.

“Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá.
Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.
O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.
Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.

E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.”


"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre." (Ariano Suassuna)

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