A porta do seu quarto
No começo eu ficava só imaginando como seriam as coisas lá dentro. Só me perguntando "qual a cor do momento?"
Aí um dia a porta se abriu devagar e eu finalmente consegui entrar, mas não tinha me dado conta desse fato naquele momento. Primeiro senti o cheiro de mofo, de lugar abandonado, largado às traças, esquecido, talvez por muitos anos, talvez por um bem maior. Aquela porta trancada abriu-se pra mim depois de muito tempo, como se esperasse minha visita, como se soubesse que eu chegaria um dia. Deparei-me com um ambiente interno surpreendentemente fresco quando estava calor e caloroso quando o tempo esfriava. Era quase melhor do que a minha casa. Tudo parecia meio desbotado, antigo e empoeirado a princípio, mas as paredes foram rapidamente renovadas, aparentando pintura nova, cheirando levemente a novidade. De grão em grão, as cores foram mudando, a decoração se adequando e as cortinas esvoaçaram com a brisa leve que entrou pelas frestas da janela re-inaugurada. Os raios de sol iluminaram a vida que entrava, mandando a escuridão embora. E o que era treva virou luz, o que era frio ficou quente e o vazio ficou cheio...
Aquela primeira imagem, a primeira impressão de antes, deu lugar ao aconchego e, com a porta, abriu-se um mundo de possibilidades. Ali estava um lugar para sorrir, chorar, falar, descansar, distrair o olhar... ali a futura divisão dos sonhos, mistérios, alegria e prazer sem limites. Devagar, sem que eu percebesse, aquele lugar antes abandonado, antes estranho, vazio e empoeirado, devagar aquele lugar passava a ser a minha casa.
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