Tem alguém aí que pense da mesma forma?
Experiências ruins também rendem
boas histórias a serem contadas. Principalmente e infelizmente. Mas não se
enganem, essa não é uma história nova, pois quase todo mundo que eu conheço já
passou por alguma situação similar.
Em plena casa dos trinta, tenho necessitado
de atendimento médico mais do que nunca, e justamente ontem, em vez de procurar
atendimento no Pronto Socorro do meu convênio, resolvi procurar a UPA (Unidade
de Pronto Atendimento) mais próxima da minha casa. Chegando lá, percebi que o
ambiente estava mais lotado do que o habitual, porém, como estava cansada e com
febre, dor de cabeça e todos aqueles sintomas desagradáveis de uma gripe comum,
resolvi ficar e esperar. Naquele momento eu não sabia, mas ali estava começando
uma longa jornada de espera de mais de quatro horas. É isto mesmo, cheguei a
uma unidade que intitula-se "pronto atendimento" e fiquei exatamente
quatro horas e quarenta minutos para receber um “pronto atendimento” que durou
menos de dois minutos, em que o médico sequer se deu ao trabalho de usar seu
estetoscópio ou olhar em meu rosto, me prescrevendo uma receita de neosaldina e
novalgina, resultado que, àquela altura do campeonato, eu nem quis questionar para
evitar a possibilidade de ter que ficar mais três horas esperando por um raio-x
ou qualquer outro exame que ele pudesse solicitar, e que, imagino, me deixaria
ali esperando até à meia noite, no mínimo.
Bem, meus caros, que a situação da
Saúde pública no Brasil está péssima não é novidade, isto todo mundo já sabe,
mas o que muitos não sabem ou não tiveram a infelicidade de perceber na pele, é
que não é apenas um problema do SUS, mas se estende para os convênios médicos
particulares também, aqueles que pagamos caro todo mês, cumprimos carências e
tudo mais... pois é, no mesmo momento em que eu esperava por um atendimento digno na
UPA de São Bernardo do Campo, com uma simples gripe, meu pai, que havia se
acidentado em um trabalho em altura neste mesmo dia, estava sendo levado para o
Pronto Socorro de seu convênio, o qual ofereceu um atendimento tão ou até mais
medíocre e irresponsável do que o do SUS. Meu pai idoso, com o braço quebrado e
a cabeça machucada, não recebeu nem um remédio para dor quando chegou ao
estabelecimento segurando o próprio membro quebrado, não passou por nenhum exame, nem mesmo um raio-x, e foi
orientado a marcar uma consulta para engessar o braço! Entre umas e outras
falhas inacreditáveis, o médico ainda trocou a ficha dele com a de outro
paciente, o que, por sorte, foi observado por uma terceira pessoa que estava no
local e observava a situação de descaso total. Desorientado, meu pai voltou
para casa com uma tala mal colocada em seu braço direito e uma insegurança
absurda no peito sobre os procedimentos que foram tomados. Arrisca-se agora a
ser submetido a uma cirurgia de emergência, que teria sido evitada caso tivesse
recebido toda a atenção necessária que qualquer ser humano deveria receber quando em uma situação de urgência/emergência, e quando há seres
humanos de verdade no meio de tomadas de decisão importantes como estas que envolvem diretamente a vida e a integridade de outras pessoas.
Sentada na cadeira da UPA do
Alvarenga durante mais de quatro horas, com uma simples gripe, eu vi pessoas
entrando e saindo com a vida arruinada pelo desespero e desamparo. Alguns com
início de infarto, outros com pressão alta, muitos com febre acima de 38 graus...
pais carregando crianças para outros lugares distantes, por falta de pediatra, uma
das especialidades prometidas para esta UPA especificamente, e tudo o que podiam
ouvir da administração do hospital era uma resposta fria dizendo: "se a
criança estiver morrendo prestaremos atendimento, caso contrário, procure outra
unidade...". Fiquei imaginando se fosse meu filho, ou se eu estivesse lá
com meu pai... Chego à lamentável conclusão de que essa passividade está nos
levando para o buraco cada dia mais e se não tomarmos uma atitude, morreremos
por isto. Quantas pessoas terão que ser lesadas esperando por um atendimento em
filas de espera de hospitais neste país, sejam eles públicos ou privados? Até
que ponto vai o desrespeito e a desumanidade quando estamos lidando com a vida
e o bem estar de outras pessoas? Quantos terão sequelas graves por incompetência
de um governo que fecha um pra cada novo hospital que abre e ainda usa isto
como campanha política? Quantas crianças inocentes ainda terão que sofrer nos
braços dos pais abandonados?
Precisamos ativar nossa memória
política, pois não acredito que vale a pena morrer desta forma tão injusta, tão
ridícula, tão impune e, principalmente, tão fora de hora. Deveríamos parar o país,
literalmente, porque, pelo visto, sem revolta, nada vai mudar.
Enquanto isto, o que posso fazer
é uma reclamação formal a este governo e a este convênio médico particular,
abrir um processo contra o hospital e tentar escalar sozinha a montanha que se
formou entre o que é nosso direito (no papel) e o que está acontecendo na prática.
Se houver alguém aí que pensa da mesma forma que eu e que tem pessoas a quem
amar, destine um pouco do seu tempo e reclame também. Escreva, coloque no papel e passe adiante, pois o que é registrado é mais difícil de ser esquecido e está um passo à
frente de ser provado. Tem alguém aí que pense da mesma maneira?
Cidiane, como agora tenho três crianças, a necessidade de usar o aparato médico é, com certeza, grande. Uma vez no Centro de Pronto Atendimento da Unimed, com minha filha mais velha, reclamei muito da demora em ser atendido. Mas parece que a esmagadora maioria das pessoas gosta de reclamar do time que não ganha, de falar de novelas, prestar atenção em programas alienantes na tv, etc, etc, etc. Faço coro com você, mas acho que a máquina política brasileira foi criada errada, cresceu errada e funciona de forma errada. O que precisaríamos de fazer é uma desconstrução das coisas, para que tudo seja reconstruído da forma mais justa possível.
ResponderExcluirMarcelo Fernandes de Alencar - IPT
É Marcelo...tem horas que a gente se sente remando contra a maré mesmo! :(
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