To my unborn child

Essa semana andei olhando as coisas do mundo, as ruas e rios, as pessoas, as lojas, tecnologias e as formas de vida e conveniência que criamos como um jeito de lidar mais facilmente com a nossa própria necessidade de sobrevivência.
Pensei nas possibilidades de mudar o meu ponto de vista, de ser diferente, de estar errada. É sempre tão possível estarmos errados quanto estarmos certos sobre qualquer coisa, principalmente sobre as coisas mais íntimas que sentimos e que às vezes, com o tempo, vão se mesclando de um jeito aos nossos medos, que nos tornamos sabotadores de nós mesmos, sem perceber. Pensei na diferença que fariam os teus olhos olhando pelo mundo, como seria a experiência de me ver pela primeira vez, na ambiguidade de sentimentos incontroláveis que eu imagino que sentiríamos, ao mesmo tempo. Imaginei as diversas formas de vida que eu poderia te ensinar a amar e respeitar, a sensação do meu mundo deixando de ser meu para ser de outro alguém por quem eu desejasse ser melhor, por quem eu passaria a ser outra coisa que me fizesse gostar de viver, curtir minha existência por meio da existência de outrem.
Eu pensei nisso como há muito tempo penso em tantas outras coisas. Tentei de novo olhar através de teus olhos e dentro de mim, como de costume, veio aquela dorzinha cheia de pesar, me dizendo que não é por aí que as coisas vão se acertar, e que esses não são os motivos certos, que essa avalanche de sentimentos não tem nada a ver contigo ou com qualquer outra pessoa. Mais uma vez eu cheguei à conclusão de sempre, mesmo ouvindo outros pontos de vista, mesmo abrindo exceções, mesmo desejando profundamente essa mudança. A gente sente o que sente, não tem jeito. Perdoa-me, vou ficar mais um tempinho imaginando-te e esperando por um milagre que talvez não aconteça nunca.
É que olhando ao redor e observando a correria dos meus dias, as pessoas se acotovelando no metrô, se olhando rispidamente pelo retrovisor, julgando precipitadamente e criticando umas às outras, jogando lixo nas ruas, repetidamente irritadas e mal humoradas, eu sempre tive certeza de que esse é o estilo de vida que eu não preciso e, portanto, não desejo para ninguém. Mas essa semana foi a primeira vez que eu olhei tudo isso e pensei que talvez tivesse alguma contribuição positiva a fazer, o poder de mudar as coisas para melhor, de estender a minha influência para além do tempo concedido, depois caí na real de que implantar toda essa expectativa sobre os ombros de alguém seria a decisão mais idiota, injusta e precipitada que eu tomaria nesta ou em qualquer outra vida que eu tivesse.
Perdoa-me.


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