Emagrecer não é uma linha de chegada

Não, essa não é a primeira vez que escreverei sobre comida neste blog, mas como cada escrita sempre vem após um grande aprendizado, este originou-se de uma segunda experiência completamente diferente da primeira, em que eu acredito que “virei a chave” definitivamente quando o assunto é saúde e não apenas emagrecimento... permita-me explicar o porquê.
No texto publicado em 2016, neste mesmo blog, eu expliquei um pouco da minha longa história de brigas com a balança e também adicionei umas dicas de reeducação alimentar, caso o leitor desejasse entender mais estes aspectos que contribuíram para o sucesso das minhas mudanças. Neste momento (2020), entretanto, a mudança vai muito além da alimentação, e acho que talvez este seja o maior aprendizado que estou vivendo agora. E isso faz toda a diferença, pode acreditar.

Esses dias, por exemplo, eu estava assistindo um vídeo do Dr. Drauzio Varella, em que ele defende que devemos nos esforçar para mantermo-nos ativos em uma atividade física, em vez de ficarmos esperando uma motivação divina que nos tire do sofá, e eu concordo plenamente com ele, em gênero, número e grau. Quando perdi peso em 2016 eu fiz mais ou menos o caminho contrário, usei a uma motivação externa para buscar o emagrecimento que eu desejava, e por isso foi fácil somente no começo. Quando tudo ao nosso redor está indo bem e a gente está feliz, é muito fácil ter motivação pra cuidar de si mesmo, o problema é que às vezes os caminhos que percorremos na vida têm a estabilidade de uma montanha russa. Por isso, em poucos meses, ao menor sinal de estresse, engordei tudo que eu tinha perdido e mais um pouco, tendo em vista que motivação externa deixou de existir. Lembro que foi bastante frustrante na época, e até um pouco pior porque acrescentei o álcool no meu dia-a-dia, e o círculo vicioso da alimentação ruim combinado com bebidas alcoólicas e sedentarismo é uma receita quase tão mortal como qualquer outro círculo vicioso que eu conheço, só perdendo para as drogas ilícitas, talvez.
O fato é que a “gula é fuga emocional, é sinal que algo te devora por dentro”, como dizia o saudoso Salvador Arena. A gente come porque está triste, depois come porque tá feliz, então come pra comemorar, e assim por diante. E sair deste círculo pode ser realmente complicado e exigir uma grande determinação.

 
Desta vez resolvi fazer de outro jeito, e posso dizer que consegui construir uma mentalidade diferente ao longo do tempo, mudando intimamente a minha relação com a comida, com o mundo ao meu redor e comigo mesma, e a grande diferença em relação a 4 anos atrás é que eu não busquei motivação externa para conquistar este objetivo, mas sim uma força interna que eu alimentei com a mudança de hábitos aliada a ideias e pensamentos novos a respeito da forma como eu lido com a comida, mudando inclusive, minhas preferências alimentares. Isso foi fácil? Claro que não, como nada nessa vida é. E hoje em dia, ainda é fácil hoje? Sim, após quase 6 meses é muito mais natural! Como consegui finalmente emagrecer a minha mente...? Vou comentar cada detalhe, mas antes preciso esclarecer que alguns acontecimentos contribuíram para que eu entendesse meu próprio processo de mudança e abrisse os olhos para minhas reais necessidades.

O primeiro fato é que este ano eu tomei a decisão de fazer uma mamoplastia redutora, cirurgia que serve para diminuir o tamanho dos seios, aliviando o peso e o desconforto causado pelas mamas grandes, e este assunto com certeza vai render um longo texto aqui no futuro, mas por enquanto é importante esclarecer que a excesso de peso corporal jamais foi um impedimento para minha cirurgia, pra ser sincera, o médico nem sequer tocou neste assunto, entretanto, no momento em que tomei essa decisão eu me vi diante de 3 questionamentos principais: 1- quão feliz eu ficaria com o resultado da minha cirurgia, estando mais de 10 kg acima do meu peso ideal? 2- será que valeria a pena esse investimento, tendo em vista que se eu emagrecesse depois da cirurgia, o resultado seria prejudicado? 3- os riscos de encarar um procedimento cirúrgico não seriam maiores para alguém que está acima do peso?
Essas perguntas ficaram fixas na minha cabeça e eu mesma encontrei minhas respostas: eu deveria emagrecer sim, preferencialmente antes da cirurgia, sem pressa, mas o máximo que eu conseguisse, afinal de contas, uma alimentação saudável aliada a atividade física definitivamente me traria mais bem do que mal, em qualquer contexto do universo. E assim eu fiz. Planejei a cirurgia com 6 meses de antecedência e tracei a meta pessoal de perder 10 kg neste período. Busquei o apoio de uma excelente nutricionista e com a ajuda dela, perdi 12 até o momento e, embora eu já esteja plenamente satisfeita com meu corpo, acredito que no longo prazo, perderei um pouco mais, já que incorporei uma vida totalmente nova.

Os outros fatos que contribuíram para meu emagrecimento saudável aconteceram após o início deste processo, sendo ambos relacionados à saúde de pessoas do meu convívio. Acontece que um certo dia eu estava conversando com uma pessoa que trabalhava comigo, com quem eu costumava compartilhar experiências, e comentando sobre um problema na coluna que ele vinha enfrentando há alguns meses, ele soltou a seguinte frase “eu havia comprado uma bicicleta na intenção de mudar, mas nem cheguei a usá-la porque logo veio esse problema”... e essas palavras entraram na minha mente como o sol iluminando o firmamento, me fizeram refletir sobre como sempre estamos deixando tudo pra depois, tudo pra amanhã, como se o amanhã fosse certo quando sendo que, na verdade, é a maior incerteza que existe em nossas vidas. Estamos sempre negligenciando nossas verdadeiras necessidades, coisas tão importantes que deixamos de lado todo dia, fingimos que está tudo bem até que algo aconteça para abrir os nossos olhos. Logo lembrei da história das pessoas serem como cavalos, que a Monja Coen conta em um de seus vídeos, que vou deixar linkado no fim desse texto.

O último e mais importante fato ocorrido foi o estado de saúde do meu pai, que ao longo de poucos meses, foram se mostrando bem mais sérios do que imaginávamos. Em resumo, quando recebi a notícia de que meu pai precisaria fazer a ponte de safena, passou um filme na minha cabeça e ele me mostrava uma única coisa repetidamente: como somos irresponsáveis com o nosso próprio corpo! Como podemos nos esquecer do que realmente importa? Como podemos ser tão ignorantes a ponto de fazer péssimas escolhas conscientemente? Como podemos ser tão pouco compassivos conosco e com os outros ao nosso redor? Da pra imaginar o nível das reflexões que invadiram a minha vida né?
Eu olhei para o meu pai e me vi no lugar dele, daqui a 20 ou 30 anos. E essa experiência me fez acordar para a realidade, antes que ela jogasse um tijolo na minha cabeça para me acordar: é preciso mudar urgentemente e tem que ser hoje, não amanhã, nem depois de amanhã, nem segunda-feira... porque este momento é a única certeza que temos na vida! Meu pai acordou para uma vida totalmente nova aos 70 anos de idade, e tenho certeza que essa situação foi e está ainda sendo um enorme aprendizado para ele e para toda a nossa família. Aproximadamente um mês antes da cirurgia, com o apoio da minha mãe, ele mudou completamente seus hábitos alimentares, e em apenas 15 dias sua aparência mudou, mas não porque emagreceu! Seu rosto mudou ganhando uma coloração mais clara porque sua pressão sanguínea normalizou, o corpo desinchou porque os líquidos retidos foram eliminados, a barriga diminuiu porque evidentemente, depois de um mês, o emagrecimento foi uma consequência inevitável. Sua aparência estava bem melhor e isso não tem nada a ver com estética, tem a ver com a simples escolha de usar o alimento como cura, em vez de usá-lo como veneno. E isso me faz chegar no ponto principal do meu processo de mudança: comer alimentos saudáveis e praticar uma atividade física não é opcional, é um compromisso como outro qualquer, como trabalhar, estudar, cuidar da casa e da família. É um compromisso com você mesmo e com as pessoas que você ama, portanto, não seja irresponsável em relação a isto. Esqueça qualquer desculpa esfarrapada que você conte a si mesmo todo dia, dê seus pulos, arrume tempo, busque uma solução. Saia dessa bolha de ilusão em que você se encontra, mentindo pra si mesmo que amanhã você começará a dieta.
Aliás, esqueça a palavra dieta, risque do seu dicionário, assuma de uma vez por todas a responsabilidade sobre seus atos e escolhas diariamente, amadureça. Está feliz? Corra! Caminhe! Malhe! Dance! Pule corda! Está triste? Cozinhe, leia, converse, cante, durma, viva! Essas atividades trarão tanto ou mais prazer do que a comida. Ame-se, cuide do seu corpo, ele é a única posse que você realmente pode dizer que tem nesse mundo, valorize-o! Não destrua-o com porcarias que não valem a pena. A vida é muito mais do que encher a cara de açúcar, sódio e álcool.
Se a sua compaixão não inclui você mesmo, então não é compaixão. Ajude-se, cobre de você os resultados que espera, monitore-se e orgulhe-se de quem você é, de quem você quer ser e de quem você está se tornando.

Saiba que emagrecer não é uma linha de chegada, não é um objetivo final, viver melhor é! Entenda que não existe atalho. Hoje eu entendo o mecanismo correto de se ter o peso ideal, entendo que tudo está interligado. A motivação tem que vir de dentro da gente, tem que ser talhada e construída com dedicação e esforço todo dia, em cada pequena escolha, até que um dia ela se torna um hábito, aí fica mais fácil.  Não é contar calorias, nem se obrigar a comer o que você não gosta, nem se privar do que te agrada, é abrir a mente para o novo, é experimentar novos sabores, testas novas receitas, aceitar substituições, eliminar o que não tem valor nutritivo algum, ponderar e equilibrar tudo o que for possível, dentro de uma coerência que te permita viver tudo o que você quiser, no momento certo, nas porções adequadas.

Chega um momento em que você sente falta de comida saudável, sente falta da atividade física, e é nesse momento que você percebe que conseguiu finalmente escapar do círculo vicioso ruim e conquistou finalmente uma vida verdadeiramente saudável. Neste momento é possível apreciar todos os prazeres e benefícios oriundos das suas decisões certas, seja por sentir-se muito mais energizado e disposto ou simplesmente por caber em todas as roupas lindas que você nunca coube. Ou por sentir-se tão orgulhoso de você mesmo ao olhar o caminho percorrido.

Mas lembre-se que não é uma linha de chegada, então tente ser cada dia melhor, continue mudando, aceitando coisas novas, fazendo seus exercícios e cuidando de si mesmo para o resto da vida. Incentive as outras pessoas. Não se deixe abalar porque o dia não foi dos melhores, encare as dificuldades e logo tente dar a volta por cima, voltar à ativa, pois isto irá ajudar até mesmo no processo de recuperação de qualquer problema que você esteja enfrentado, porque uma vida saudável resulta em uma mente muito mais lúcida, consciente e feliz.

Basta lembrar sempre que a vida é uma escolha, a gente sempre vai colher o que plantamos e é bem simples assim mesmo.

 

Após perder 10 kg perderam-se muitas roupas

Certamente me sinto mais linda :-)

E não passo mais raiva na hora de provar roupas por aí

Definitivamente me sinto mais jovem e feliz o/

O vídeo do Drauzio, sobre sedentarismo:

 

 

Video da Monja Coen sobre as pessoas serem como cavalos:

 

Uma reflexão sobre a origem da obesidade...vídeo excelente e impactante: