Não gosto de cebolas

Não gosto de cebolas, nunca gostei pra falar a verdade, exceto pelo cheiro, pois quando fritas, realmente cheiram bem, mas quando cruas são insuportavelmente irritantes aos meus olhos. Hoje em dia até tento apreciar... aquela servida no restaurante australiano ou mesmo as cozidas nas comidas feitas pela minha mãe, mas mesmo essas muito bem preparadas, ainda não me agradam muito. Não consigo imaginar como alguém pode gostar desse sabor “sei lá o quê”, cítrico e ao mesmo tempo ardido, indefinido, além do fato de o paladar memorizar o gosto por horas depois que você comeu, deixando um hálito tão desagradavelmente forte que nada pode esconder. Leite, creme dental, enxaguante bucal, goma de mascar, nada adianta!
As cebolas sempre foram minhas inimigas, me fazem chorar até quando outra pessoa está cortando. Além da textura não ser nada agradável também, o barulho que se faz quando a gente mastiga, até isso eu não gosto. Confesso que utilizo em alguns preparos na cozinha, quando sei que a quantidade e o tempo de cozimento irão esconder ao máximo o gosto característico, deixando apenas uma lembrança de sabor, apenas como um leve tempero. Fora isso, não costumo tê-las em meus pratos.
A única memória boa que as cebolas me trazem, cruas, fritas ou cozidas, é sobre a diversidade, pois se existem pessoas no mundo que amam cebola e são capazes de comê-las até cruas, então eu tenho uma prova concreta de que gosto é realmente algo indiscutível.
Hoje, por exemplo, eu jantei tarde, e sentada sozinha à mesa, resolvi pegar o resto de uma salada temperada pela minha mãe, que ela havia deixado ali em uma tigela sobre a mesa. Peguei de tudo um pouco, pepino, tomate, pimentão, alface, mas deixei as cebolas espalhadas no vinagre, cortada em fatias, abandonadas. Lamentei por elas naquele momento, pois não tenho culpa de não gostar, mas não quis mesmo pegar. De repente me dei conta que, apesar do pouco tempo, talvez pela intensidade do relacionamento, acostumei-me a vê-lo pegar as cebolas todas da minha salada (e da dele), como se elas fossem a melhor parte. Acho inadmissível a ideia de uma cebola ser a melhor parte de um prato qualquer, mas por meio da diversidade de opiniões e sensações, pelo menos elas não ficam ali sozinhas, sem cumprir o seu papel na alimentação.
Percebi como a gente se acostuma com detalhes que parecem insignificantes, mas que em face de qualquer tipo de reflexão, tornam-se gigantes. Senti uma saudade imensa de um detalhe que só eu entendia, e pensei como é bom sentir falta de algo ou alguém que ainda temos chance de encontrar novamente para matar a saudade.
Entendi que não saberia direito como me acostumar com a falta de alguém que pudesse comer, com tanto prazer, minhas cebolas. Depois que elas passaram a ser comidas em minha salada eu nunca mais tive motivos pra chorar.


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