É tudo mentira

Tem dias que a gente se sente barato, pobre, idiota. Tenho me sentido assim esses dias. Não porque eu seja assim, pois sei que não sou, mas infelizmente o mundo nos faz sentir desse jeito com frequência. Se eu tivesse um filho, um dia, inevitavelmente, eu diria a ele que o mundo é um moinho...
Eu não sei se sou frágil demais ou se é justamente um pouco de sensibilidade que está faltando neste mundo, mas eu sinto falta de ser valorizada. E sinto que muita gente sente a mesma coisa. A gente se acostuma mesmo com tudo, mas isso nem sempre é bom porque a gente acaba achando que é normal ser desvalorizado.
Uma das coisas que tem me incomodado demais é a mediocridade em que se transformou o mundo organizacional em geral, e essa é uma visão estarrecedora para mim, pois antes eu imaginava que se tratava de uma área específica ou uma empresa em particular, mas a verdade é que é o mundo todo, e eu nem sei se é de hoje ou se sempre foi assim, nem sei se todas as pessoas enxergam isso, acredito que algumas passam por esta vida sem perceber nada.
Vivemos em um tipo de matrix, ingênuos trabalhadores que levantam antes das seis da manhã, tomam café na padaria da esquina, pegam o ônibus lotado e voltam pra casa ao cair a noite... Desempenhamos nosso trabalho com empenho quase todos os dias, esperando por um aumento de salário quase como Pedro Pedreira do Chico Buarque, esperando por um aprendizado e um ganho de conhecimento maior para amenizar a falta do reconhecimento financeiro, esperando ter grana pra estudar mais, pra ganhar mais e crescer mais. A gente se esforça tanto que quase sempre o cansaço domina as noites e acabamos por não ter tempo nem pra nossa família direito. As coisas acabam correndo bem, em geral, pois aprendemos e crescemos tecnicamente, mas os bolsos continuam quase vazios... A gente acha que nosso trabalho é importante, nos preocupamos com todos os detalhes, cada vírgula no papel impresso e tentamos fazê-lo seguindo todas as regras, leis e normas pertinentes, ainda mais nesse mundo atual globalizado, em que a cobrança por padrões altíssimos de qualidade não dão trégua. Mas com o tempo a gente percebe que todas as rígidas regras são seguidas conforme as conveniências, seja do empresário, do governo ou do cliente, mas nunca a da norma, lei ou procedimento, tem dias que eu nem sei pra que criaram tantas regras se elas são na verdade, todas de mentira, de fachada. Uma exceção aqui e outra ali, e de repente percebemos que na verdade o que menos importa para o "sistema" é aquele trabalho que julgamos inicialmente tão importante e que na minha cabeça realmente é. Errados são eles que ignoram isto por conveniência própria. No final fica pela consciência de cada um, mas o apoio de quem esta no banco do motorista nunca vem de verdade e aquilo que a gente faz e que de repente sustenta um edifício inteiro perde seu verdadeiro valor, junto com o profissional que o executa e junto de seu bolso vazio. Vivemos uma grande mentira, na frente dos nossos clientes, na frente do auditor, vivendo a era da hipocrisia. Enxergando essas coisas, não me admira que a maioria das pessoas hoje em dia esteja sonhando com empreendimentos próprios. É a única saída que vejo, criar nossas próprias regras e segui-las de verdade. Se é que isto é possível nesse país.


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